Entrevista:O Estado inteligente

domingo, setembro 04, 2005

O Katrina e a economia americana Alberto Tamer

O ESTADO DE S PAULO
    
Dúvidas dominaram o mercado do petróleo após o rastro de destruição deixado pelo furacão Katrina. Sexta-feira, havia previsões de todos os tipos. Pessimistas previam uma grande desaceleração da economia americana, os otimistas achavam que a economia pode enfrentar mais esse desafio, como mostra o bom comportamento das Bolsas de Londres e Nova York e do mercado financeiro; os mais equilibrados procuram afastar dos olhos a impressionante cena dos milhares de flagelados, para fazer previsões.
No entanto, todos reconhecem que a reconstrução das áreas atingidas exigirá pesados investimentos bem maiores que os US$ 43 bilhões gastos no último grande furacão denominado Andrew.
Havia muitas projeções do custo do Katrina. As mais conservadoras falavam em US$ 50 bilhões e as mais altas, em US$ 100 bilhões. Acreditamos que este valor é o mais provável se incluirmos o custo do transporte e acolhimento de mais de 25 mil pessoas e da urgência econômica de colocar em produção os poços de petróleo e refinarias. O Andrew, custou US$ 45 bilhões e nem de longe se assemelha ao atual.
Mas de onde virá esse dinheiro? Além dos recursos dos fundos, há os do governo na construção de pontes e estradas. Somem-se a isso os investimentos próprios das empresas de petróleo e refino, e teremos aí os US$ 100 bilhões estimados.
Infelizmente, muitos economistas estão dando mais atenção ao que foi destruído, sem levar em conta o que terá de ser construído. E com urgência, pois essa situação de desespero das famílias flageladas não poderá perdurar muito sob a pena de gastos políticos que já começam a surgir.
Mas de onde virá o dinheiro? Cerca de US$ 25 bilhões a US$ 30 bilhões das companhias de seguros. O furacão açoita uma área já muitas vezes atingida por desastres idênticos, o que leva os seus moradores a buscarem o seguro de suas propriedades, terras e até de vida. São quase todos segurados.


MAIS 2 MILHÕES DE BARRIS
Pode-se dizer que as repercussões do furacão sobre o petróleo e a economia são suportáveis. No fundo, tudo se reduz a três perguntas e respostas. 1 - O furacão provocou escassez de petróleo? R - Não, mas da gasolina sim, nos EUA, onde os consumidores desconfiados correram ao posto para encher o tanque do automóvel até a boca. Houve um aumento imediato dos preços da gasolina e a falta em muitos postos. Isto é, os que queriam fugir do aumento do preço e da escassez geraram sua própria punição. O preço aumentou e faltou gasolina. Mas foi um fenômeno estritamente localizado. 2 - Houve um forte aumento dos preços do petróleo? R - Não. Os preços aumentaram enquanto o furacão fazia estragos, mas recuaram depois que Bush anunciou a liberação imediata de 5 milhões de barris de seu estoque estratégico. No dia seguinte, a pedido dos EUA, a Associação Internacional de Energia informou que estavam sendo liberados 2 milhões de barris/dia. O furacão provocou uma redução de 1,4 milhão de b/d, apenas, 7% da demanda interna, mas a AIE liberou 60 milhões dos estoques dos países membros. Em conseqüência, o preço do petróleo, em Nova York, recuou de US$ 70 para US$ 68, e em Londres o Brent para outubro foi negociado a US$ 66,06.
No fim de semana, um dos maiores oleodutos do Golfo do México, o Colonial Pipeline, já tinha sido reparado e entraria em operação já nestes dias, com 85% de sua capacidade.
E a terceira pergunta: Quais são as conseqüências para a economia mundial? R - Aqui, surgem várias opiniões. O furacão ocorre num momento em que a economia americana estava dando sinais de desaceleração, PIB de 3,3%, mas o desemprego recuou ao nível mais baixo dos últimos 4 anos, 4,9% da força de trabalho.
Esse dado oficial refere-se a um período anterior ao furacão. A curtíssimo prazo haverá paralisações da atividade econômica, mas a recuperação da área atingida, a reconstrução de casas, estradas e portos, sem contar as obras das próprias empresas de petróleo, irão gerar imediatamente empregos já na fase de socorro. Talvez a melhor observação foi feita pelo economista sênior do Wells Fargo, Eugenio Alemã: 'O Katrina pode servir maravilhosamente para os pregadores da recessão.
Eu não prevejo nenhuma recessão, mas apenas que estamos caminhando para uma redução do crescimento por causa do Katrina.' Ou seja, para ele e grande número de analistas econômicos, o furacão pode gerar empregos a médio termo, mas, assim mesmo, a economia crescerá menos no próximo trimestre. Resumindo, estamos diante de um desastre que choca pela tragédia humana, mas não de uma crise que derrube a economia.


Arquivo do blog