O GLOBO
O risco de não se conseguir nada em agricultura durante a Rodada Doha é muito grande. Quem diz é o embaixador José Alfredo Graça Lima, chefe da missão do Brasil junto à Comunidade Européia. Apesar disso, ele acha que o país deve discutir, sim, uma nova etapa da abertura comercial, com o objetivo de aumentar a própria competitividade. "Tarifa alta nunca foi um trunfo, sempre foi uma desvantagem difícil de intercambiar", afirma.
Ontem a Camex se reuniu para decidir sobre a posição que o Brasil vai tomar na preparação da reunião de ministros em dezembro na OMC. O tema, como sempre aconteceu, divide o país, o governo, os empresários. Discutir abertura no Brasil é sempre um dilema. Mas esse é um assunto inevitável. No governo, a proposta da Fazenda de fazer uma forte redução de tarifas provocou arrepios e foi, propositadamente, divulgada pelos seus adversários para provocar as reações de protestos.
Longe de tudo isso, Graça Lima vê de outra forma. Experiente negociador comercial, o embaixador já teve que justificar o injustificável: o sólido bloco de barreiras que o Brasil tinha até o fim da década de 80. Ele defende que o país abra mais, pelos nossos interesses:
— Um plano de corte tarifário equilibrado ao longo de dez anos, nos moldes do que está sendo oferecido pelo Mercosul à União Européia nas tratativas birregionais só trará mais benefícios para a economia e a sociedade brasileiras. O risco de atrelar a liberalização às negociações multilaterais está no fato de que, se as negociações, por qualquer motivo, não se concluem, o país adia a medida, perde a oportunidade de aumentar sua produtividade, há o influxo de investimento e mantém-se um grau de proteção elevado para alguns setores, contribuindo, dessa forma, para a concentração da renda e a má repartição dos frutos do crescimento.
Esse ponto final do argumento de Graça Lima é sempre esquecido pelos defensores da manutenção da proteção: ela concentra a renda. Quem paga o preço do conforto dado aos empresários é o consumidor.
O embaixador admite que atrelar a redução tarifária a um processo negociador tem duas vantagens: o custo político é menor e o país consegue vantagens em troca. Por outro lado, o risco de atrelar é o de adiar ajustes que são necessários por razões internas. Até porque há o risco de que o Brasil não consiga o que quer em Doha, que é a eliminação de barreiras agrícolas.
— A União Européia só assume compromissos multilaterais de eliminação de subsídios à exportação se os Estados Unidos também se comprometerem a eliminar todas as formas ostensivas e disfarçadas de subsídios, o que é improvável na vigência da Lei Agrícola americana — comenta Graça Lima.
Caso os EUA aceitem, a Europa iria já fazer concessões. O risco é que a Europa está pedindo, por essas medidas que serão tomadas de qualquer jeito caso haja acordo com os Estados Unidos, que sejam aceitas quotas nos produtos sensíveis.
— Aí está o verdadeiro risco, porque essas quotas nada mais são do que restrições quantitativas proibidas pela Rodada Uruguai.
Ou seja, o Brasil tenta preparar sua proposta imaginando que vai conseguir vantagens na área agrícola, e não vai. Contudo essa constatação não deve levar à conclusão de que não se deva abrir mais:
— As cartas já estão sobre a mesa e o Brasil, a meu juízo, nada perde, ao contrário, em adotar políticas e medidas que promovam uma melhor inserção no plano externo, mais produtividade e mais competitividade no plano interno e até autoridade moral para exigir de seus parceiros o cumprimento das regras e disciplinas multilaterais, bem como dos objetivos do Gatt e da OMC — diz.
Este tema sempre foi complexo e tem vários lados. O embaixador concorda que os empresários têm razão de reclamar o alto custo de capital no Brasil e da carga tributária. Isso tem que ser discutido sem dúvida, principalmente o custo de capital. Não pelo comércio exterior, mas como única forma de retomar o crescimento de forma sustentada.
No princípio do processo de abertura, os argumentos das assimetrias entre o Brasil e os outros países também foram apresentados. Mesmo assim, a abertura foi sendo feita passo a passo. A primeira medida, tímida, foi no governo Sarney, com a reforma tributária de 1988. No governo Collor, foi eliminado o absurdo anexo C (lista de proibição de importações) da Cacex. Em 94, o acordo de Ouro Preto estabeleceu a Tarifa Externa Comum, o que consolidou o que fora feito no governo Collor. No governo Fernando Henrique, houve um recuo. Ele disse, numa entrevista ao jornalista Márcio Moreira Alves, que acabaria com a farra das exportações. Logo depois, foram elevadas as tarifas para automóveis, brinquedos, têxteis, entre outros. O setor de brinquedos teve alíquota de 70% numa proteção extra que durou oito anos e só agora está voltando ao nível normal. A de têxteis também foi retirada. Carros, eletrônicos, computadores ainda têm tarifas muito altas, como mostramos numa coluna recente.
Se o Brasil não tivesse aberto a economia, teria ficado totalmente ilegal no comércio internacional e não estaria hoje com a pujante balança comercial. Exporta muito quem importa muito. A China virou o que virou a partir do momento que abriu sua economia, no fim dos anos 70.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2005
(4606)
-
▼
setembro
(497)
- A votação mais cara do mundo Bruno Lima Rocha
- LUÍS NASSIF Efeitos dos títulos em reais
- Batendo no muro LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
- Dirceu entre a inocência e a onipotência MARCELO C...
- ELIANE CANTANHÊDE Nova República de Alagoas
- CLÓVIS ROSSI O país do baixo clero
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO O ELEITO DE LULAL
- DORA KRAMER Agora é que são elas
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Despudores à parte
- João Mellão Neto Como é duro ser democrata
- Roberto Macedo Na USP, uma greve pelas elites
- EDITORIAL DE O GLOBO Cidade partida
- MERVAL PEREIRA O gospel da reeleição
- Luiz Garcia Juiz ladrão!
- MIRIAM LEITÃO Políticas do BC
- Raça, segundo são João Jorge Bornhausen
- Cora Rónai Purgatório da beleza e do caos
- Fundos e mundos elegem Aldo
- EDITORIAL DE O GLOBO Desafios
- A Derrota Política do Governo!
- MERVAL PEREIRA Vitória do baixo clero
- MIRIAM LEITÃO Sem medidas
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Atrasado e suspeito
- DORA KRAMER Muito mais do mesmo
- LUÍS NASSIF Indicadores de saneamento
- ELIANE CANTANHÊDE Vitória das elites
- CLÓVIS ROSSI A pouca-vergonha
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO NORMA ANTINEPOTISMO
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO DESVIOS SEMÂNTICOS
- Aldo vence, dá gás a Lula e esperança aos "mensale...
- JANIO DE FREITAS Dos valores aos valérios
- EDITORIAL DO JB A vitória da barganha
- AUGUSTO NUNES Berzoini foi refundado
- Se não se ganha com a globalização, política exter...
- Fome de esquerda Cristovam Buarque
- A valorização do real em questão
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO A debandada dos p...
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Precisa-se de ger...
- Ineficiência fiscal e a 'Super-Receita' Maurício M...
- DORA KRAMER Adeus às ilusões
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO OS DEPUTADOS DECIDEM
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO MAIS DO MESMO
- CLÓVIS ROSSI Cenas explícitas de despudor
- FERNANDO RODRIGUES Uma Câmara submissa
- ELIO GASPARI Bicudo foi-se embora do PT
- LUÍS NASSIF A discussão do saneamento
- "Upgrade" PAULO RABELLO DE CASTRO
- EDITORIAL DE O GLOBO Gastamos mal
- EDITORIAL DE O GLOBO Chávez fracassa
- No governo Lula, um real retrocesso HÉLIO BICUDO
- MIRIAM LEITÃO Das boas
- MERVAL PEREIRA A base do mensalão
- A frase do dia
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Desculpas não bastam
- Jóia da primavera Xico Graziano
- Oportunidade perdida Rubens Barbosa
- DORA KRAMER Com aparato de azarão oficial
- LUÍS NASSIF Os caminhos do valerioduto
- JANIO DE FREITAS Esquerda, volver
- ELIANE CANTANHÊDE Todos contra um B
- CLÓVIS ROSSI A crise terminal
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO FRAUDES NO APITO
- Diferença crucial RODRIGO MAIA
- EDITORIAL DE O GLOBO Dois governos
- Arnaldo Jabor Manual didático de ‘canalhogia’
- MIRIAM LEITÃO Além do intolerável
- MERVAL PEREIRA Espírito severino
- AUGUSTO NUNES Os bandidos é que não passarão
- A crueldade dos humanistas de Lancellotti Por Rein...
- O Cavaleiro das Trevas
- Juristas Dizem Que Declarações DE DIRCEU São Graves
- O PT e a imprensa Carlos Alberto Di Franco
- A outra face de Lacerda Mauricio D. Perez
- Reinventar a nação LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
- VINICIUS TORRES FREIRE Urubus políticos e partidos
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO CHÁVEZ E A POBREZA
- AUGUSTO NUNES Os gatunos estão em casa
- MERVAL PEREIRA O fator Mangabeira
- João Ubaldo Ribeiro Mentira, mentira, mentira!
- MIRIAM LEITÃO Eles por eles
- DORA KRAMER Um perfil em auto-retrato
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Contraste auspicioso
- Gaudêncio Torquato O horizonte além da crise
- São Paulo olhando para o futuro Paulo Renato Souza
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO MOMENTO IMPORTANTE
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO DÍVIDA EXTERNA EM REAL
- CLÓVIS ROSSI As duas mortes de Apolônio
- ELIANE CANTANHÊDE Malandro ou mané?
- LUÍS NASSIF A reforma perdida
- Para crescer, é preciso investir em infra-estrutur...
- FERREIRA GULLAR Alguém fala errado?
- JANIO DE FREITAS Nada de anormal
- Lula também é responsável, afirma Dirceu
- Augusto de Franco, A crise está apenas começando
- Augusto Nunes Uma noite no circo-teatro
- Baianos celebram volta de Lula a Brasília
- Lucia Hippolito Critérios para eleição de um presi...
- MERVAL PEREIRA A voz digital
- MIRIAM LEITÃO O perigo é olhar
- FERNANDO GABEIRA Notas sobre os últimos dias
-
▼
setembro
(497)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA