O GLOBO
O Brasil não é o único país do mundo a descobrir uma vasta rede de corrupção. A diferença é que aqui pune-se menos. Há casos notórios no mundo. E muito corrupto na cadeia. Há uma preocupação crescente com o tema. Instituições multilaterais estão montando redes de vigilância. Estudos de casos ajudam a construir táticas de investigação para proteger o interesse comum.
O mais conhecido dos casos é o da Itália, em 92, de uma dimensão sem precedentes na história da democracia. Tudo começou quando Mário Chiesa, um importante integrante do partido socialista, foi preso aceitando propina. O depoimento dele detonou uma série inacreditável de prisões de empresários, administradores públicos e políticos. O caso atingiu mais de 500 procuradores, vários ex-ministros, cinco ex-primeiros-ministros. De 92 a 96, foram indiciadas 2.392 pessoas acusadas do crime de corrupção.
Os riscos nesses processos são sempre os mesmos. O pior deles é se conformar com o crime. Logo no início do caso italiano, o líder socialista Bettino Craxi, em depoimento à Câmara dos Deputados, disse que "todos sabiam" que todos os partidos recebiam financiamento ilegal e que a corrupção era parte do sistema. Novos depoimentos de empresários e políticos mostraram que Craxi estava profundamente envolvido com a corrupção. Acuado, ele acusou integrantes de outros partidos para provar que o que fizera era um comportamento generalizado. Melhor dizendo, era feito "sistematicamente". Por mais vasto que tenha sido o processo de limpeza da política italiana, outros escândalos surgiram nos anos seguintes, provando que o combate à corrupção exige perseverança.
Uma segunda onda de escândalos surgiu em 95, quando administradores públicos foram acusados de usar recursos públicos para fins privados. Por esse escândalo, foram processadas 2.700 pessoas. Mas em 2001 surgiu um novo escândalo quando o diretor-geral de um hospital público foi apanhado recebendo propina e alegou que era para cobrir "custos de políticos". Em 2002, 20 pessoas foram presas por envolvimento num caso de corrupção no Instituto Nacional de Seguros.
Na Alemanha, o caso mais conhecido foi o do ex-chanceler Helmut Kohl, em 1998. Revisitá-lo ensina que certas coisas mudam apenas de endereço. O tesoureiro do CDU, partido do primeiro-ministro Kohl, foi apanhado por não declarar 500 mil euros que havia recebido de empresas. Ele se defendeu dizendo que tinha repassado o dinheiro para o partido, que não contabilizou a quantia na declaração ao presidente do Congresso. Kohl admitiu que recebera doação de mais de um milhão de euros de empresas e garantiu que o dinheiro havia sido usado para financiar os gastos do CDU. Um tesoureiro, um primeiro-ministro, dinheiro não contabilizado; tudo soa tão familiar! A população acreditou que Kohl não usara o dinheiro para fins privados, mesmo assim ele desapareceu da vida política alemã, juntamente com muitos outros líderes do partido.
O caso de Kohl não foi o único. Em 2002, o SPD, partido socialista de Gerhard Schroeder, envolveu-se no chamado "Escândalo de Colônia", quando se descobriu que 400 milhões de euros haviam sido gastos numa usina de queima de lixo que não era necessária, fora superdimensionada e superfaturada. Quatro milhões foram pagos a funcionários que aprovaram a obra e 400 mil euros foram doados em agradecimento ao partido socialista. Este caso também soa familiar. Tem até lixo!
Aflições assim têm sacudido outros povos e, contra a chaga da corrupção, alguns remédios estão sendo estudados com boa metodologia. O Banco Interamericano de Desenvolvimento criou o Escritório de Integridade Institucional. O órgão realizou em maio um encontro de funcionários de alto nível de 19 países para estudar o problema com base num caso fictício. Os participantes tinham de treinar táticas anticorrupção ao investigar o caso: num país chamado Cometa, um funcionário do setor de saneamento, Enrico Garcia, recebe propina de uma empresa estrangeira, Gus van Saant, para fechar um contrato lucrativo numa obra de dragagem de um rio. Adivinhem através de que empresa a propina foi paga? Da empresa de publicidade, a Soleil Publicidad. Tudo, até a ficção, soa familiar.
Outras instituições multilaterais estão montando departamentos especializados em combate à corrupção. Durante a reunião do BID, José Ugaz, um dos integrantes da equipe do escritório especializado do Banco Mundial, contou como ele, no papel de principal procurador do caso Montesinos-Fujimori no Peru, fez a investigação. O escândalo foi detonado por uma gravação de Vladimiro Montesinos, eminência parda do governo Fujimori, dando US$ 15 mil a um deputado que saiu da oposição para entrar na base do governo. Ao ser descoberto, o deputado disse que o dinheiro era para pagar gastos de campanha. Tudo tão familiar! A investigação descobriu uma vasta rede de dinheiro ilegal. Hoje 120 pessoas estão presas e, graças à cooperação de governos estrangeiros, US$ 170 milhões foram recuperados.
O estudo de casos de outros países mostra uma monótona repetição de esquemas, desculpas e truques. Os casos são espantosamente parecidos. As redes de vigilância da sociedade deveriam se aproveitar disso para construir, também, remédios universais.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2005
(4606)
-
▼
setembro
(497)
- A votação mais cara do mundo Bruno Lima Rocha
- LUÍS NASSIF Efeitos dos títulos em reais
- Batendo no muro LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
- Dirceu entre a inocência e a onipotência MARCELO C...
- ELIANE CANTANHÊDE Nova República de Alagoas
- CLÓVIS ROSSI O país do baixo clero
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO O ELEITO DE LULAL
- DORA KRAMER Agora é que são elas
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Despudores à parte
- João Mellão Neto Como é duro ser democrata
- Roberto Macedo Na USP, uma greve pelas elites
- EDITORIAL DE O GLOBO Cidade partida
- MERVAL PEREIRA O gospel da reeleição
- Luiz Garcia Juiz ladrão!
- MIRIAM LEITÃO Políticas do BC
- Raça, segundo são João Jorge Bornhausen
- Cora Rónai Purgatório da beleza e do caos
- Fundos e mundos elegem Aldo
- EDITORIAL DE O GLOBO Desafios
- A Derrota Política do Governo!
- MERVAL PEREIRA Vitória do baixo clero
- MIRIAM LEITÃO Sem medidas
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Atrasado e suspeito
- DORA KRAMER Muito mais do mesmo
- LUÍS NASSIF Indicadores de saneamento
- ELIANE CANTANHÊDE Vitória das elites
- CLÓVIS ROSSI A pouca-vergonha
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO NORMA ANTINEPOTISMO
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO DESVIOS SEMÂNTICOS
- Aldo vence, dá gás a Lula e esperança aos "mensale...
- JANIO DE FREITAS Dos valores aos valérios
- EDITORIAL DO JB A vitória da barganha
- AUGUSTO NUNES Berzoini foi refundado
- Se não se ganha com a globalização, política exter...
- Fome de esquerda Cristovam Buarque
- A valorização do real em questão
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO A debandada dos p...
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Precisa-se de ger...
- Ineficiência fiscal e a 'Super-Receita' Maurício M...
- DORA KRAMER Adeus às ilusões
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO OS DEPUTADOS DECIDEM
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO MAIS DO MESMO
- CLÓVIS ROSSI Cenas explícitas de despudor
- FERNANDO RODRIGUES Uma Câmara submissa
- ELIO GASPARI Bicudo foi-se embora do PT
- LUÍS NASSIF A discussão do saneamento
- "Upgrade" PAULO RABELLO DE CASTRO
- EDITORIAL DE O GLOBO Gastamos mal
- EDITORIAL DE O GLOBO Chávez fracassa
- No governo Lula, um real retrocesso HÉLIO BICUDO
- MIRIAM LEITÃO Das boas
- MERVAL PEREIRA A base do mensalão
- A frase do dia
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Desculpas não bastam
- Jóia da primavera Xico Graziano
- Oportunidade perdida Rubens Barbosa
- DORA KRAMER Com aparato de azarão oficial
- LUÍS NASSIF Os caminhos do valerioduto
- JANIO DE FREITAS Esquerda, volver
- ELIANE CANTANHÊDE Todos contra um B
- CLÓVIS ROSSI A crise terminal
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO FRAUDES NO APITO
- Diferença crucial RODRIGO MAIA
- EDITORIAL DE O GLOBO Dois governos
- Arnaldo Jabor Manual didático de ‘canalhogia’
- MIRIAM LEITÃO Além do intolerável
- MERVAL PEREIRA Espírito severino
- AUGUSTO NUNES Os bandidos é que não passarão
- A crueldade dos humanistas de Lancellotti Por Rein...
- O Cavaleiro das Trevas
- Juristas Dizem Que Declarações DE DIRCEU São Graves
- O PT e a imprensa Carlos Alberto Di Franco
- A outra face de Lacerda Mauricio D. Perez
- Reinventar a nação LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
- VINICIUS TORRES FREIRE Urubus políticos e partidos
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO CHÁVEZ E A POBREZA
- AUGUSTO NUNES Os gatunos estão em casa
- MERVAL PEREIRA O fator Mangabeira
- João Ubaldo Ribeiro Mentira, mentira, mentira!
- MIRIAM LEITÃO Eles por eles
- DORA KRAMER Um perfil em auto-retrato
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Contraste auspicioso
- Gaudêncio Torquato O horizonte além da crise
- São Paulo olhando para o futuro Paulo Renato Souza
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO MOMENTO IMPORTANTE
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO DÍVIDA EXTERNA EM REAL
- CLÓVIS ROSSI As duas mortes de Apolônio
- ELIANE CANTANHÊDE Malandro ou mané?
- LUÍS NASSIF A reforma perdida
- Para crescer, é preciso investir em infra-estrutur...
- FERREIRA GULLAR Alguém fala errado?
- JANIO DE FREITAS Nada de anormal
- Lula também é responsável, afirma Dirceu
- Augusto de Franco, A crise está apenas começando
- Augusto Nunes Uma noite no circo-teatro
- Baianos celebram volta de Lula a Brasília
- Lucia Hippolito Critérios para eleição de um presi...
- MERVAL PEREIRA A voz digital
- MIRIAM LEITÃO O perigo é olhar
- FERNANDO GABEIRA Notas sobre os últimos dias
-
▼
setembro
(497)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA