o globo
O Ipea acreditava que o país cresceria 2,8%; agora acha que crescerá 3,5%. Ontem, novos sinais de que a inflação está despencando foram dados no IPCA e no IGP-DI. A mudança de cenário foi tão forte que o IGP-M do ano passado foi de 12,4%, a previsão do mercado para este ano, em abril, era de 6,9%, e a previsão agora é de 2,2%. Tudo preparado para crescer mais? Ainda não. O Ipea olhou para trás e viu que nossas recuperações são breves.
De 99 para cá, este é o terceiro período de crescimento. São bons períodos; pena que são curtos. O primeiro foi logo depois da flutuação do câmbio. O país cresceu nove trimestres e bateu de frente na crise de energia; o segundo período foi durante 2001-2002, o país cresceu por quatro trimestres e novamente bateu de frente, com a disparada do câmbio provocada pela crise política. Agora está crescendo há oito trimestres e a ameaça vem de outra crise política.
O grande nó a ser desfeito na economia brasileira é essa incapacidade de sustentar o crescimento. Se o país mantiver o ritmo durante este ano de crise e o ano que vem de eleição, terá dado um bom sinal de maturidade da economia.
Do lado de fora, só vem ajuda. Até agora. Desde o começo do governo Lula, não houve crise externa, daquelas que costumavam sacudir o chão durante o governo Fernando Henrique. O crescimento mundial tem sido de grande ajuda, mas é difícil imaginar que tudo continuará assim tão bem. A mistura de um mercado de petróleo superaquecido, muito especulativo e agora enfrentando a incerteza espalhada pelo Katrina, é de preocupar. Até ontem, apenas 30% da produção de petróleo do Golfo do México haviam sido restabelecidos. A região está deixando de produzir um milhão de barris de petróleo. Quando passar a temporada dos furacões, o hemisfério norte estará se preparando para a chegada do inverno. Ou seja, o preço não cai tão cedo.
Uma coisa é certa: o Brasil faz de conta que não vê o que se passa com o mercado de petróleo. No mundo inteiro, está havendo correção de preço de combustível; menos aqui. Por isso, o relatório do Ipea traz uma nota técnica assinada por Fábio Giambiagi e Maria Andréia Parente Lameiras propondo que o Brasil tenha alguma regra para a política de preços dos combustíveis. Atualmente não se tem idéia do que orienta a decisão brasileira.
Quando foi aprovado o último aumento do combustível, o petróleo estava em US$ 35. O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, tem dito que não pode haver reajuste enquanto durar a volatilidade. Os preços continuam voláteis, mas em patamares cada vez mais altos, e não há esperança de volta, tão cedo, aos níveis de US$ 35. É verdade que o câmbio caiu e compensou, em parte, a falta de reajuste da gasolina e do diesel mas, se isso fosse o suficiente para evitar os reajustes, por que a Petrobras aumenta os preços que tem pouca visibilidade para o consumidor e mantém parados os sempre visíveis gasolina e diesel?
A Petrobras ganha dinheiro com qualquer preço, porque o custo de produção é baixo. Porém, se a proposta é um mercado aberto, fica esquisito deixar os preços tão defasados. Pelos cálculos dos dois economistas do Ipea, a defasagem está em 34% para a gasolina e 14% para o diesel. Eles dizem que, com a queda da inflação, se houver um aumento agora da ordem de 8% a 10% não prejudicará a meta.
Mais do que conceder ou não o aumento, deveria ficar claro qual é a política de preços dos derivados de petróleo afinal. Os economistas do Ipea fazem duas propostas de reajustes periódicos, mas argumentam que, dez anos depois do fim do monopólio, o mercado do Brasil continua nessa área sendo controlado por uma única empresa e as decisões são todas discricionárias e tomadas pelo Estado. Deixando assim, não haverá investimento de companhias privadas e tudo ficará como dantes, só que se dando mais liberdade para a empresa monopolista.
No Boletim de Conjuntura de ontem, o Ipea disse que o cenário é de que está tudo pronto para a queda das taxas de juros. Nesse ambiente, a pergunta é qual o nível de crescimento que a economia brasileira consegue sustentar. A resposta é: será possível crescer de forma sustentada no nível de 4%, mantidas as condições atuais, se houver um investimento maior. O nível atual é baixo demais.
Os números do PIB da semana passada mostraram uma recuperação do investimento, mas não tem havido investimento em infra-estrutura porque tudo o que depende de decisão do atual governo, pode esquecer.
"Um crescimento fortemente superior a 4% após o Plano Real só foi possível em condições excepcionais", diz o Boletim do Ipea. Outra conclusão do instituto é que "um ajuste da demanda externa da magnitude do que foi registrado nos últimos três anos não se repetirá no futuro previsível". Já que a gente só cresce acima de 4% em momento especial e já que o mundo não continuará dando essa sopa que nos deu nos últimos anos, o país tem que fazer melhor certas tarefas. Uma delas, baixar os juros, afirma o Ipea. Para isso, será preciso continuar tendo "superávits da ordem de 5% do PIB"; aumentar o investimento; melhorar a regulação; a área tributária e até aquilo que parece impossível hoje em dia: "a previsibilidade política".
Entrevista:O Estado inteligente
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