Com a confirmação de que a esquerda terá uma influência maior no diretório nacional do PT, embora o Campo Majoritário, que está tendo uma votação mais expressiva do que se imaginava, continue controlando politicamente o partido através de acordos com as diversas tendências, a política econômica do governo entrará na ordem do dia nas discussões internas, apesar do sucesso que vem alcançando.
Para impedir que a influência da esquerda se cristalize com a eleição do presidente no segundo turno, seja ele Raul Pont, da Democracia Socialista, ou Valter Pomar, da Articulação de Esquerda, os dirigentes partidários estão se movimentando para recompor alianças do Campo Majoritário que eventualmente tenham se dispersado no primeiro turno.
Até mesmo o presidente Lula promete votar, numa demonstração simbólica de que a eleição de Ricardo Berzoini é importante sinalização de tendência para o diretório nacional, embora o importante mesmo seja sua composição. Dependendo de quem for o presidente eleito, a direção que sucederá o Campo Majoritário pode estar mais ou menos à esquerda. A tentativa do governo é montar uma direção de centro-esquerda, que apóie a política econômica.
Nas negociações para a formação do novo diretório, os governistas estão vendendo a idéia de que a política econômica do ministro Antonio Palocci, que foi criticada por todos os candidatos da esquerda, não descuidou da área social, permitindo que houvesse um "choque de crédito popular" nos últimos tempos no país.
Segundo os especialistas, o crédito ao consumidor teve um aumento real de 14%, especialmente devido ao desconto em folha de pagamentos, que permitiu taxas mais baratas com a garantia do desconto direto. Esse choque estaria sendo um dos responsáveis pelas taxas de crescimento do PIB.
Também o crédito à agricultura familiar aumentou, e as políticas sociais, especialmente o Bolsa Família, tiveram verbas garantidas, apesar do superávit primário de quase 5%. Não parece haver dúvidas, dentro do PT, de que Lula deve ser o candidato à reeleição, ficando a confirmação por conta apenas de sua decisão pessoal.
Os que acreditam que mudar parâmetros da política econômica é fundamental para viabilizar uma vitória de Lula, citam as eleições municipais, quando o PT perdeu em cidades como São Paulo e Porto Alegre, apesar das fortes políticas sociais para as camadas populares.
Essas derrotas seriam devidas à perda de apoio de parcelas dos trabalhadores organizados, dos setores de classe média da população, e do empresariado industrial. Os mais à esquerda do partido admitem até mesmo que o governo não possa fazer, neste momento, uma mudança radical de política econômica, mas cobram sinalizações de que um eventual segundo mandato presidencial traria consigo uma mudança na economia.
Uma parte dessa reivindicação já começa a ser atendida com a tendência do Banco Central, revelada pela ata do último Copom, de continuar baixando a taxa de juros. É provável, portanto, que a inclinação para a esquerda do novo diretório nacional do PT seja verbalizado mais agressivamente pelo partido, mas não tenha efeitos práticos além da seqüência natural da atual política econômica.
É possível até que vejamos uma disputa política inversa à de 2002, quando a falta de confiança do investidor na futura política econômica de Lula provocou um desarranjo nos índices, e a advertência dos tucanos de que poderíamos caminhar para uma "argentinização" de nossa economia.
Na campanha do ano que vem, o governo Lula, conservador como todo governo, venderá a imagem do equilíbrio econômico do país, enquanto os principais adversários, presumivelmente os tucanos, atacarão sua eficácia, cobrando maior crescimento.
Poderemos ver o PSDB propondo medidas mais audaciosas na área econômica, acusando o governo petista de conservadorismo e de prejudicar a classe média e o setor produtivo com a combinação de altas taxas de juros (que, mesmo com as reduções durante o ano, chegarão às eleições como as mais altas do mundo) e carga tributária elevada. E a esquerda petista concordando.
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O deputado federal Fernando Gabeira, do Partido Verde, depois de ter dado o início ao movimento político que culminou na saída de Severino Cavalcanti da presidência da Câmara, volta-se para uma das suas prioridades, o meio ambiente. Ele alerta que a situação na Amazônia "está muito séria", com 40 mil focos de incêndio. Há também um grande incêndio na Bolívia. Os relatos são de que o dia está acabando às três horas da tarde por causa da nuvem de fumaça que tomou conta de toda a região, provocando inclusive doenças respiratórias graves que já provocaram a morte de nove crianças no Acre.
A população da região já está se mobilizando, e as primeiras passeatas, com populares com máscaras, começam a protestar nas ruas. Gabeira preocupa-se com a atuação pouco eficiente do governo, e propôs ao governador do Acre, o petista Jorge Viana, e ao líder do governo, Arlindo Chinaglia, que levassem ao presidente Lula a sugestão de fazer uma reunião dos governadores da região para definir uma política emergencial.
Fernando Gabeira avalia que até mesmo para a imagem internacional do país é ruim que essas queimadas prossigam sem que haja uma intervenção firme do governo brasileiro. "Não adianta a gente ficar criticando o Bush, que não cuidou do Katrina, e deixar que essas coisas aconteçam aqui no Brasil".