Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, setembro 23, 2005

EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO MAU COMEÇO

Não é inspirador o início da disputa pela vaga de presidente da Câmara dos Deputados, eleição que está marcada para a quarta-feira da semana que vem. Os parlamentares parecem não ter ainda captado a especificidade e a importância desse pleito e o quanto dele depende o resgate da imagem da Casa. Imperam a confusão, a desarticulação e a pulverização, quiçá transitórias.
Seria ingênuo e de resto inócuo esperar que os deputados federais deixassem de lado seus interesses eleitorais, quanto mais quando há disputas para presidente, governador, deputado federal, deputado estadual e senador agendadas para outubro do ano que vem. O ponto é que o próprio raciocínio da sobrevivência política induz a tratar essa sucessão na Câmara de maneira diferenciada.
A repetição do "fenômeno" Severino Cavalcanti seria uma catástrofe, a essa altura dos acontecimentos, para todo o Parlamento -bem como o seria qualquer acordo que atrapalhasse o processo de cassação de mandatos e de investigação do escândalo de corrupção. E, ao menos de acordo com os sinais iniciais da disputa para o cargo de presidente da Casa, os parlamentares se arriscam muito a repetir essa tragédia.
O governismo e seu núcleo, o petismo, estão em frangalhos. Tentar impor um candidato que lhes seja próximo equivale a pregar no deserto. Abrir mão de atuar no processo, deixando o acaso imperar, também não é a melhor opção. A oposição tampouco deveria confiar em ir para a disputa com um nome que não foi fruto de nenhuma negociação com lideranças da base governista.
Tudo isso cria um caldo de alta imprevisibilidade para a disputa, indesejável nas atuais circunstâncias. Nesse cenário, um aventureiro que chegue ao segundo turno, tal como ocorreu com Severino, pode muito bem servir de desaguadouro de votos da parte -governo ou oposição- que não conseguir emplacar seu candidato. Esse risco deve ser evitado. E, para isso, as forças tradicionais da Câmara devem se organizar, devem conversar entre si e colocar o processo, o mais rapidamente possível, nos trilhos da mínima previsibilidade.

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