Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, setembro 23, 2005

Luiz Garcia Ascensão e queda severina

o globo


Faz tempo, João Cabral cantou a triste sina dos Severinos do Nordeste:"Somos muitos Severinos / iguais em tudo na vida... e iguais também porque o sangue / que usamos tem pouca tinta... / Morremos de morte igual, / mesma morte severina..."


O também pernambucano Severino Cavalcanti provavelmente não terá poetas para pôr em versos algum lamento ou protesto sobre seu falecimento político (ou, no mínimo, longa agonia). Motivos para reclamar não parecem existir: a prova do cheque é forte, irrespondível.

Por outro lado, uma dose de lamentação sempre se justifica: afinal, Severino não inventou no Congresso — como provam antigas e quase esquecidas CPIs (como a que puniu os "anões" da Comissão de Orçamento) — o clima que tornou para ele natural e aparentemente sem risco achacar o dono do restaurante do quarto andar.

Nos últimos dias, diversas vezes jornais e TVs registraram uma cena especialmente constrangedora: o presidente da Câmara à porta da residência oficial, acompanhando ou esperando um visitante, mas sem passar do umbral; na sombra, parecendo intimidado e tímido como nunca foi durante a curta passagem por um dos mais altos cargos políticos do país.

Não era esse o Severino que emergiu depois da improvável eleição para a presidência da Câmara. No alto da estrutura, ele foi falastrão, pitoresco, enfático — como voltou a ser no discurso de despedida. Mas até então, quando o cerco começou a se fechar, parecia ter-se encolhido, aparentemente intimidado, com certeza perplexo. Faz sentido: qualquer um ficaria zonzo, depois da ascensão surpreendente, da curta e excitante temporada lá no alto — e da queda súbita.

O ex-presidente da Câmara não tem casa própria, em Brasília ou em Recife. E disse que vai viver da aposentadoria, além de anunciar que recomendara ao filho que se demitisse do cargo federal em Pernambuco praticamente exigido do Executivo pelo pai. Se tudo é verdade, registre-se o fato curioso de que um dos raros homens públicos já punidos neste país pelo feio crime de achacar cidadãos (já que renúncia forçada castigo é) aparentemente não ter enricado com a desonestidade. Pode haver nisso uma grande lição. Não faço a menor idéia qual seja.

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