Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, setembro 22, 2005

MERVAL PEREIRA Mirando em 2006

o globo

Assim como a dobradinha PFL-PSDB apoiando a candidatura do deputado Thomaz Nonô à presidência da Câmara reabre as perspectivas de uma futura aliança política entre os dois partidos da oposição na sucessão presidencial, o veto do PT tanto a Nonô quanto ao presidente do PMDB, Michel Temer, confirma que a campanha de 2006 já está em marcha no Congresso, e todos os movimentos políticos são feitos com olho nela.

O governo ganhou um fôlego com a pesquisa Ibope/ CNI divulgada ontem, que mostra uma estabilidade em relação à avaliação do mês passado e, mais que isso, uma ligeira recuperação da candidatura do presidente Lula nas simulações de voto para o primeiro turno.

Certamente é essa perspectiva de que o pior momento da crise política tenha passado que faz com que o governo, e o PT, se mostrem mais desembaraçados nas suas atuações, como registrado aqui na coluna de ontem. Embora a queda, desde junho até hoje, de 12 pontos percentuais na confiança da opinião pública no presidente Lula seja devastadora, ela não continuou a se registrar neste mês, o que pode ser entendido como um bom sinal. A aprovação do governo, que também vem de uma queda de 10 pontos percentuais, estabilizou-se em setembro em 45%, enquanto a desaprovação permaneceu em 49%, os mesmos índices do mês anterior.

São números críticos, e tecnicamente um candidato que tenha menos de 50% de aprovação não tem chances de reeleição, de acordo com estudos de pesquisas de opinião. Mas mesmo assim, as simulações de voto para uma futura eleição presidencial mantém Lula como candidato competitivo, e melhorando um pouco sua avaliação, embora continue empatado tecnicamente com o prefeito de São Paulo, José Serra. Lula aparece em um dos cenários com 33%, tendo aumentado mais que a margem de erro em relação ao mês passado, quando registrou 29%, e passado à frente de Serra, que aparece com os mesmos 30% hoje.

A análise dos últimos quatro meses mostra que o prefeito José Serra está estagnado no mesmo índice, enquanto Lula, que já teve 38% em junho, caiu para 29% e volta a subir, embora ainda longe de seu melhor momento. O veto do PT ao presidente do PMDB tem duas vertentes: ele é do grupo oposicionista do partido e, além do mais, está sendo apoiado pelo ex-governador Garotinho, que insiste em ser o candidato do PMDB à Presidência da República. A mesma pesquisa do Ibope divulgada ontem mostra que Garotinho estaciona em 10% do eleitorado desde junho. Só sobe para cerca de 15% quando Lula não está no páreo, o que confirma a análise do presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen, que diz que com Lula se candidatando, o mais provável é que seu partido apóie a candidatura tucana.

Sem Lula, a tendência é que todos os partidos apresentem seus candidatos. O presidente Lula, segundo relato de assessores próximos, tem analisado com freqüência a possibilidade de não disputar a reeleição, lembrando que sempre foi contra esse mecanismo. O que impede Lula de assumir essa decisão é o sentimento muito brasileiro de que não se recandidatar seria uma admissão de fracasso de seu governo. Ao mesmo tempo, o PT não tem qualquer outro candidato de peso para ajudar o partido, ainda mais num momento politicamente delicado como esse.

O resultado da disputa pela hegemonia do diretório nacional do PT, que se encontra na reta final, não deve influir na decisão do presidente, já que o Campo Majoritário, embora não tenha alcançado a maioria absoluta, provavelmente continuará controlando politicamente o partido através de acordos. A candidata Maria do Rosário, do Movimento PT, está tendo uma votação importante — cerca de 12% — e poderá apoiar o Campo Majoritário na sustentação da política econômica, o grande foco de discordâncias dentro do PT.

Valter Pomar, da Articulação de Esquerda, que estava à frente de Raul Pont ontem à noite por poucos votos, acha que tem que haver uma inflexão na política econômica, mas não acredita que vá haver um conflito com o governo: "Vai haver uma disputa política, uma queda-de-braço, um diálogo tenso. Mas a realidade vai nos empurrar para uma convergência". Pomar diz que "lulismo é uma coisa e petismo é outra". Com isso, quer dizer que o PT tem que ter uma posição e dialogar com o governo.

Mas ressalta: "Esse diálogo não pode chegar ao ponto de facilitar o ataque da direita contra nós. Sou daqueles que acham que há um inimigo principal, que é o PSDB/PFL, e contra esse inimigo eu não tenho dúvida de qual movimento temos que fazer. Não existe qualquer possibilidade de o governo Lula ser ultrapassado pela esquerda. Ele pode se ultrapassar, indo à esquerda. Será vitorioso pela esquerda, ou derrotado pela direita", assevera Pomar.

O fato novo na esquerda é o PSOL, que acaba de receber seu registro partidário e pode ser enriquecido por um grupo de dissidentes da esquerda petista que até o fim de setembro decide se sai ou não do partido. A pesquisa Ibope revela um crescimento sustentado da candidatura da senadora Heloisa Helena, que tem entre 5% e 6% das intenções de voto, contra 3% em junho. A pesquisa mostra ainda que Heloisa Helena, que ganhou muito destaque na CPI dos Correios, já atinge 13% das intenções de voto entre eleitores que ganham acima de 10 salários-mínimos, 12% no público universitário e 9% nas capitais.

A avaliação do governo, no entanto, é que o PSOL não terá força eleitoral para enfraquecer uma candidatura Lula, assim como o PSTU, outra dissidência do PT, não conseguiu empolgar o voto de esquerda. Já o ex-prefeito Cesar Maia, pré candidato do PFL que aparece com 5% dos votos, acha que se a senadora do PSOL trocasse o jeans e a camiseta por um "tailleurzinho" poderia surpreender na eleição.

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