Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 10, 2005

MERVAL PEREIRA Com ou sem Lula?

O GLOBO

Com a anunciada entrada do senador Cristovam Buarque no PDT, resta agora apenas a decisão do ex-governador Anthony Garotinho de permanecer ou não no PMDB, para que a primeira parte do processo de decisão dos candidatos à sucessão de Lula seja definida até o fim de setembro, quando termina o prazo legal para a filiação a um partido para concorrer às eleições de 2006. O ex-governador do Rio, apesar de aparecer sempre bem posicionado nas pesquisas, não atrai os grandes partidos políticos. O PMDB trabalha com diversas hipóteses — os governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcellos, ou o presidente do Supremo, Nelson Jobim — sendo Garotinho uma opção quase descartada.



Por isso Garotinho tentou voltar ao PDT, mas foi barrado pela seção regional do Rio e pelo senador Cristovam Buarque, que condicionou sua adesão ao partido não à sua própria candidatura a presidente, mas ao veto à de Garotinho. Se insistir em tentar sair candidato do PMDB à Presidência, Garotinho corre o sério risco de não disputá-la, e por isso avalia se vale a pena tentar uma legenda menor, o que reduziria sua chance a quase zero.

A definição dos candidatos à sucessão presidencial vai depender, na verdade, da decisão de Lula. Com ele na disputa, mesmo enfraquecido, a situação é uma. Outra bem diferente é o PT sair com um outro candidato qualquer, com o presidente Lula desistindo da reeleição. Um terceiro cenário, mais dramático, e por isso mesmo sem previsões, é o do impedimento do presidente por crime de responsabilidade. Superada a crise política com o presidente no poder, situação que ainda é a mais provável no quadro de hoje, Lula tem ainda a carta de se transformar em um grande eleitor, podendo talvez até mesmo acabar com o instituto da reeleição, aumentando o mandato do próximo presidente para cinco anos.

Nesse cenário, a tendência é que a disputa de 2006 se pareça com a de 1989, a primeira eleição direta para presidente depois do período militar. A saída de cena de Lula, que vem disputando as eleições presidenciais há quinze anos, e a derrocada do PT significariam um recomeço do jogo político em novas bases. A tendência é que, nesse caso, todos os partidos queiram apresentar candidatos para marcar suas posições diante do eleitorado.

Os principais concorrentes, seriam, na situação de hoje, o próprio senador Cristovam Buarque pelo PDT; o deputado Roberto Freire pelo PPS; o ministro Ciro Gomes pelo PSB. Setores do PFL, estimulados especialmente pelo prefeito do Rio Cesar Maia, acham que o partido deve se aproximar do PMDB e construir uma candidatura alternativa. Segundo Maia, é correta a análise do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de que a debacle do PT desfaz a lógica anterior de polarização entre tucanos e petistas, abrindo espaço para um vetor político forte e nacional ocupar este espaço.

Para ele, "PFL e PMDB juntos passariam a ser a mais importante força politica nacional e poderiam conduzir a superação desta crise". Ele acha que se não for possível essa aproximação, o PMDB não dará a legenda a Garotinho. E alfineta: "Se este for o caminho, certamente virá um candidato sênior". Tudo indica que, como sua candidatura não decolou, Cesar Maia, embora seja o pré-candidato do PFL, não venha a ser o candidato oficial caso o partido decida lançar-se sozinho à disputa. No momento, o mais provável é que o deputado Pratini de Moraes venha ser o candidato do PFL. Ex-ministro da Agricultura e com forte apoio no agrobusiness, Pratini seria o candidato da "direita moderna" que o partido quer representar.

Nesse quadro sem Lula, o senador Eduardo Suplicy já se apresentou para ser o candidato do novo PT, mas tudo dependerá da correlação de forças que surgirá na direção nacional do partido das eleições diretas este mês. O candidato do PSDB depende também da decisão de Lula se candidatar ou não. Com Lula no páreo, a balança pende mais no momento para o prefeito José Serra e o PFL aceitaria até mesmo reviver a dobradinha com os tucanos. Caso Lula não se candidate, a definição passará a ser outra, e o candidato natural volta a ser o governador de São Paulo, Geraldo Alckmim.

Antes da crise envolvendo o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, ainda havia quem tentasse apressar a tramitação da reforma política para ser votada antes de setembro. Se já era difícil em condições normais, com a crise na Câmara está praticamente descartada a possibilidade de haver qualquer mudança na legislação eleitoral. Com isso, entrarão em vigor nas próximas eleições as cláusulas de barreira, que exigem 5% de votos nacionais, com pelo menos 2% em pelo menos nove estados, para que um partido tenha representação na Câmara. Pela lei que está em vigor, ficariam cerca de seis ou sete partidos depois da eleição de 2006, se repetidos os resultados das últimas eleições: PT, PMDB, PSDB, PFL, PL, talvez PTB e PDT.

Com as recentes denúncias acertando em cheio pequenos partidos que foram inchados artificialmente pelo mensalão, talvez PL e PTB não atinjam os votos mínimos necessários. O P-SOL ainda em fase de criação apresentará a senadora Heloisa Helena como candidata à Presidência para puxar votos e pode ser reforçado pela esquerda do PT.

Tudo indica que esses pequenos partidos, tanto de esquerda quanto de direita, só sobreviveriam nas federações partidárias, previstas na reforma política que não deve ser aprovada. Se ficar claro que não haverá mudanças na legislação, é previsível que diversas fusões de pequenos partidos venham a ocorrer.

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