Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 10, 2005

DORA KRAMER Quem foi a NYC perdeu o lugar

O ESTADO DE S PAULO

O (por enquanto) presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, avaliou mal a situação, subestimou o efeito dos fatos, achou que pudesse ir levando as coisas na base das ameaças implícitas e bravatas explícitas (mais ou menos como fez o PT) e acabou perdendo a prerrogativa da escolha.

Até a entrevista do empresário Sebastião Buani confirmando o pagamento de suborno em troca de uma licença, falsa, para funcionamento de um restaurante, Severino ainda tinha condições políticas de se afastar do cargo alegando desejo de preservar as investigações.

Agora, o colegiado já não aceita mais essa solução sem a concomitante abertura de processo de cassação, porque ela daria o direito a Severino de voltar a qualquer momento - serenados os ânimos ou em caso de recrudescimento da crise para o lado do Palácio do Planalto -, e não permitiria a convocação de uma nova eleição.

E pior: para todos os efeitos manteria no posto de presidente da Câmara um cobrador de propina que, pela desenvoltura da abordagem ao dono do restaurante, é possível que colecione episódios semelhantes em sua longa carreira de serviços prestados em cargos na Mesa Diretora.

Aqui vale um parêntese para lembrar como Severino por diversas vezes apresentou sua candidatura à presidência da Casa apenas para negociar a retirada em troca de uma função na Mesa. Desta vez não conseguiu porque o PT achou desnecessário retirá-lo liminarmente da disputa.

Olhando em retrospectiva, pode até ter sido bom. Mais didático, ao fim das contas, que o pagamento do pedágio feito anteriormente por outros candidatos.

A licença agora é uma saída que não agrada nem ao governo nem à oposição. O Planalto não vê com conforto a hipótese de ter o PFL, partido do vicepresidente da Câmara, José Thomaz Nonô, na presidência por um período de até 120 dias.

Severino demorou a agir e perdeu a prerrogativa de decidir sobre o seu destino

O medo é de que os pefelistas aproveitem o cargo para fazer picadinho do que ainda resta de governo Lula. A oposição, incluindo o PFL, tampouco acha essa a melhor solução. O líder do PSDB, Alberto Goldman, admite que seria 'péssimo' para o governo, 'mas seria ruim para a gente também'.

O mais adequado para todos seria a renúncia. Mesmo o processo de cassação não é bem visto, pois levaria muito tempo, cerca de 90 dias, e Severino não precisaria necessariamente se afastar da presidência até o desfecho do caso.

Na avaliação dos líderes, a solução precisa ser rápida, de modo a permitir que as cassações resultantes das investigações em curso nas comissões parlamentares de inquérito sejam conduzidas sob nova e definitiva direção.

Além disso, a oposição tem pressa de que o foco da crise retorne o quanto antes ao Palácio do Planalto.

Rendição

A renúncia do deputado Carlos (Bispo) Rodrigues, anunciada para segunda-feira, deve abrir a porteira que, imaginavase, seria aberta com a renúncia do presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, no mês passado.

O fator decisivo para a fila andar é o afastamento de Severino Cavalcanti da presidência da Câmara. Pode parecer incrível, mas as excelências da lista de cassações estavam mesmo confiando na capacidade de Severino de manobrar a favor de punições mais brandas, de modo a salvar pelo menos os mais notórios.

Aventava-se até a hipótese de o então - ou, melhor, ainda - presidente da Casa usar de sua prerrogativa de interromper sessões plenárias a qualquer tempo, para dar por encerradas votações no momento em que fosse atingido o quórum regulamentar, mas ainda sem o número suficiente de presenças para aprovar as cassações.

Realmente é preciso estar em total dissonância com a opinião pública para enxergar chance de sucesso num ato dessa natureza.

Pois o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, o líder do PP, José Janene, e o ex-líder do PMDB José Borba enxergaram e, ante a nova e dura realidade, devem rever suas posições antes do início dos processos no Conselho de Ética.

Nova estação

O senador Delcídio Amaral está na dependência de definições eleitorais para decidir seu futuro partidário. Está quase resolvido a sair mesmo do PT e assinar ficha de filiação no PDT ou no PSDB. Mas se o governador de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, garantir a Delcídio a legenda para disputar sua sucessão em 2006, o senador pode até ficar.

Escaldado

A ausência, para não dizer omissão, do presidente do Senado nas cenas dos últimos dias vem sendo notada no Congresso. Ainda mais que Renan Calheiros cancelou a ida a Nova York para a reunião mundial dos presidentes de parlamentos em tese por causa do agravamento da crise.

O comentário geral - tema até de recente conversa de José Dirceu com importante figura do PT - é o de que o presidente Calheiros prefere não atuar com muita contundência e destaque quando o assunto é da natureza da agenda em cartaz.

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