folha de s paulo
Nesta semana -se não houver recuo das par tes-, o Banco Central será literalmente colocado em uma sinuca de bico. Trata-se da operação de compra do Banco Pactual pela Goldman Sachs.
Depois das últimas colunas aqui publicadas, a Goldman Sachs resolveu se precaver e vai conversar pessoalmente com o BC sobre os problemas enfrentados na "due diligence", ocorrida no processo de negociações com o Pactual.
Como já se informou na coluna, os mesmos controladores do Pactual possuem um banco nas Bahamas, o POBT. Durante anos e anos, todos os lucros do Pactual eram transferidos para o POBT de uma maneira explícita de burla fiscal. Todos os gastos eram lançados sobre o Pactual brasileiro; todos os lucros, sobre o POBT, que, como está em um paraíso fiscal, não paga impostos. Foi evasão fiscal e cambial na veia, em um processo sistemático, de anos, ao qual o BC fechou os olhos.
Nesta semana, a Goldman e o presidente do Pactual, André Esteves, deverão se encontrar com o diretor de Normas e Organização do Sistema Financeiro do Banco Central, Sérgio Darcy. Será uma conversa curiosa. Nela, a Goldman será mais realista que o próprio BC. Admitirá conhecer o POBT e saber que seus resultados dependem das operações do Pactual no Brasil -conforme os próprios auditores já haviam ressalvado no balanço do POBT. Segundo a ressalva dos auditores, não havia evidência de que o POBT pudesse gerar receitas sem o Pactual.
A Goldman dirá, também, que tomou conhecimento das correspondências do Banco Central, de anos atrás, solicitando que as duas entidades fossem consolidadas. Admitirá ter lido a resposta do Pactual ao Banco Central, de que as entidades "não têm nenhuma relação direta ou indireta". E informará que o BC nunca respondeu a essa correspondência do Pactual.
A Goldman também irá dizer que o negócio foi apresentado a ela como um todo consolidado, sem a distinção operacional entre as entidades do Brasil e das Bahamas e que os acionistas são os mesmos. Finalmente, irá admitir que viu as correspondências sobre a Romanche -holding que fez operações de "esquenta-esfria" com o Pactual, conforme informado aqui na coluna- e que, pelo que sabe, há uma relação entre ela e os acionistas do Pactual.
Posto isso, para que não pairem dúvidas, a intenção da Goldman é saber se o BC aceitará essa posição do Pactual de não-consolidação. Basicamente, a Goldman quer jogar a bomba no colo do BC. A questão que apresentará é simples: eu, Goldman, identifiquei várias irregularidades que ferem a lei brasileira; o BC também identificou e não tomou nenhuma medida para coibi-las. Isso significa que eu, Goldman, poderei adquirir o banco com as irregularidades identificadas, sem correr o risco de uma ação retroativa do BC?
O BC não poderá admitir que a relação Pactual-POBT não existe, porque o próprio Pactual admitiu, na proposta de venda à Goldman. Admitindo que a relação existe, como o BC justificará o fato de jamais ter tomado uma posição a respeito, permitindo a perenização das operações "esquenta-esfria"?
Entrevista:O Estado inteligente
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