Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, setembro 07, 2005

LUÍS NASSIF Sete de Setembro

FOLHA DE S PAULO

São curiosos os dias atuais. Nos anos 1950, havia orgulho do país, independentemente das sucessivas crises políticas que o assolaram. Nos anos 1970, o país cindiu-se em dois, o do "ame-o ou deixe-o" e aquele para o qual toda forma de exaltação à nação significava apologia do regime militar.
Depois, veio a longa noite da baixa auto-estima, com um breve interregno nos primeiros meses do governo Collor e no primeiro ano do governo Fernando Henrique Cardoso.
Nos últimos anos, a estagnação da economia e os sucessivos desapontamentos políticos disseminaram um tipo padrão, especialmente nas classes média e alta mais internacionalizadas: malhar o país. Não se está falando em malhar governo, criticar instituições, mas malhar o país e abominar qualquer informação que demonstre que, apesar dos políticos e do governo, o país avança. São aqueles que acham que a popularização do modo de ser brasileiro no mundo se deve apenas à combinação do verde-e-amarelo da bandeira, porque é insuportável para seu ceticismo aceitar que parte do país está dando certo -apesar de Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.
Dia desses, recebi por e-mail um artigo do Stephen Kanitz, colunista da "Veja", em que ele relatava seu espanto em um evento, quando um dos conferencistas disparou uma saraivada de clichês contra o país -desde a herança portuguesa até a inevitabilidade do atraso- e foi aplaudido de pé pelo público.
Não há maior demonstração de atraso e de subdesenvolvimento do que esse tipo de posição. Aceita-se em um ou outro personagem parajornalista da mídia. Como forma disseminada de pensar, é ridículo, provinciano.
Nos Estados Unidos, esse personagem investe contra o establishment. Aqui, faz parte do establishment. A geração Daslu se regala com esse tipo de comportamento, porque não se sente Brasil. Hoje em dia, há publicações influentes com estilo editorial totalmente calcada nessa linha de "vergonha de ser brasileiro", "nasci por aqui por acaso". É questão de tempo para que a própria modernização do país exponha o anacronismo dessa atitude.
Hoje em dia, há um país pronto para decolar, com uma estrutura de sociedade desenvolvida convivendo com bolsões do mais puro atraso e um desempenho econômico sofrível. A atual crise política está se incumbindo de enterrar mais alguns cadáveres insepultos de um modelo político e econômico que há muito se esgotou.
Enquanto os céticos se regalam, pensadores sérios de todas as linhas estão mergulhados sobre o Brasil, tentando esclarecer o enigma da estagnação e preparando os próximos passos.
No próximo ano, as eleições presidenciais serão o referendo do desenvolvimento. A escolha será do candidato que conseguir exprimir de maneira mais clara, objetiva e racional o compromisso do país com o crescimento.
Por isso mesmo, 7 de Setembro é data para comemorar um grande país que está sendo construído, em um processo penoso, lento, de décadas, mas no qual entraram o suor e a seriedade de muitas gerações. E esse esforço não foi em vão.


Arquivo do blog