Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, setembro 02, 2005

LUÍS NASSIF O salto do gás

FOLHA DE S PAULO

  Embora na Casa Civil, a ministra Dilma Rousseff continua com o coração na energia. Na sua posse, na Casa Civil, recebeu a incumbência de trabalhar duas prioridades: a logística e avançar na área energética.
Sua visão é a de que a prospecção de petróleo no país está prestes a uma segunda revolução tecnológica. A primeira foi o investimento em tecnologia de águas profundas. Agora, será a vez do investimento no refino de petróleo extra-pesado.
O Brasil tem enormes reservas desse petróleo, vendido por preço cerca de 15% abaixo do petróleo leve. Com investimentos programados pela iniciativa privada e pela Petrobras e com os avanços da tecnologia, em breve o país conseguirá refinar esse petróleo pesado. Também poderá explorar as jazidas do Orinoco.
A crise de petróleo não apenas abre possibilidades nessa frente como na produção do biocombustível. A Petrobras foi estimulada pelo presidente da República a investir pesadamente no setor, especialmente no desenvolvimento de tecnologias que permitam, em breve, a certificação dos novos combustíveis.
Mas não apenas por isso. Depois de anos de disputas e fragmentação, a petroquímica brasileira conseguiu chegar ao melhor modelo, diz Dilma, conciliando a competição interna com a visão corporativa de expansão do investimento associado.
Mas sua aposta maior é no gás. O último plano de investimento da Petrobras prevê R$ 16 bilhões para montar um sistema nacional de gás. Parte desses recursos será aplicada no gasoduto Gasene, com 1.337 quilômetros e capacidade inicial de 20 milhões de metros cúbicos ao dia, ligando Fortaleza a Porto Alegre. Lá, haverá investimentos permitindo criar uma ligação com a Bolívia e, dali, com a Argentina. Ao mesmo tempo, permitirá incluir o gás do Espírito Santo e de Santos. Até 2010, a produção nacional poderá saltar para 60 milhões de metros cúbicos ao dia.
Um dos pontos desse plano será a conversão das termoelétricas atuais em bicombustível. As termoelétricas têm um papel meramente complementar. São acionadas apenas em caso de necessidade. Por isso mesmo, fora dos períodos de crise, sua receita consiste na venda de seus estoques de gás. Com o bicombustível, haverá maior tranqüilidade das termoelétricas para disponibilizar seu gás.
No próximo leilão de energia, aliás, a idéia do governo será licitar não a produção, mas a capacidade de produção. Ou seja, cria-se uma reserva técnica para complementar o projeto hidrelétrico, garante-se o equilíbrio financeiro, mas paga-se apenas quando houver necessidade de utilizar sua produção.
A diferença em relação a outros momentos, diz Dilma, é que primeiro se cuidou de garantir os recursos e de trabalhar todos os pontos que poderiam criar dificuldades futuras -como entender, antecipadamente, as exigências do TCU (Tribunal de Contas da União), antes de montar os editais. Agora, há recursos, cronogramas e prazos. Por conta disso, ela afasta o receio de que possa aparecer uma nova crise energética no meio do caminho.

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