FOLHA DE S PAULO
Há uma discussão reiterada sobre a melhor maneira de medir o déficit público. O déficit público consiste nas receitas do Estado, menos as despesas operacionais, menos as despesas financeiras. A maneira adequada de medir a solvência de uma empresa ou do Estado (sua capacidade de saldar suas dívidas) é por meio de índices que relacionem todas as receitas e todas as despesas.
Economistas cabeças de planilha gostam do conceito de déficit primário -que exclui os juros dessa conta, como se advogassem o calote. A razão é outra: como não entram na conta do indicador que virou padrão (o primário), as despesas financeiras (e os juros) tornam-se variáveis autônomas. Pode-se definir a taxa de juros que quiser, sem nenhuma restrição, porque o déficit primário só leva em conta despesas e receitas correntes.
Economistas mais sofisticados propõem que se paute pelo conceito de superávit nominal -que leva em conta o serviço da dívida (pagamento de juros). Com isso, explicitaria-se o custo dos juros, obrigando as autoridades monetárias a atuar nas duas direções -tanto na redução de despesas operacionais como na redução do custo da dívida pública.
É um conceito muito mais correto, mas ainda assim sem a devida sofisticação para permitir um acompanhamento adequado da equação receita/total das despesas do governo.
Um especialista em reestruturação de empresas dá a receita. No mundo privado, os indicadores relevantes são "taxa de endividamento" de uma empresa (passivo total menos patrimônio liquido dividido pelo ativo total), sua "alavancagem financeira" (ativo total dividido pelo patrimônio líquido) e a "cobertura de caixa" (Lajida ou Ebitda dividido pelo resultado financeiro liquido, ou seja, pela diferença entre as receitas e as despesas financeiras apuradas).
A "cobertura de caixa" é o melhor indicador da capacidade da atividade de gerar caixa operacional para fazer frente aos encargos financeiros resultantes do endividamento. O consultor -que sempre a utiliza em seus processos de reestruturação de empresas- aponta três vantagens:
1) mede a capacidade da empresa de honrar suas dívidas passadas;
2) permite avaliar o perfil e a qualidade do endividamento passado. Suponha que a dívida tenha permitido ganhos de rentabilidade (investimento em redução de custos ou aumento de faturamento). Nesse caso, o indicador aumenta, isto é, melhora a "cobertura de caixa";
3) com uma melhor aferição da qualidade dos gastos, melhoram as condições de captação, pois a leitura do mercado será que a empresa sabe onde e como investir.
No setor privado, considera-se saudável uma empresa que tenha uma operação com "cobertura de caixa" de no mínimo três (gera caixa equivalente a três vezes os encargos financeiros).
No caso do país, a "cobertura de caixa" equivale ao superávit primário dividido pelos encargos da dívida pública. Nos últimos dez anos, jamais alcançou 1,0. Em 1995, era de 0,04. Em 1996 e 1997, foi negativo. Nos últimos anos, melhorou um pouco, mas deve fechar 2005 com 0,64. Uma das razões é o mau perfil da dívida pública -com cerca de 42% vencendo em 12 meses e um prazo médio de apenas 30 meses.
Os trunfos de um país, para reduzir o peso dos seus encargos, são muito melhores do que o de uma empresa -porque ele é o maior devedor da economia. Hoje em dia mesmo, se a taxa Selic caísse para 16%, os investidores continuariam aplicando em títulos públicos. Mas não basta.
Com a pressão da "cobertura de caixa", o Tesouro terá que avançar na melhoria do perfil da dívida, na redução dos juros -em vez dessa política extraordinariamente ineficaz da administração na boca do caixa, em que a "arte" consiste em criar expedientes para a postergação de despesas, desarticulando todo o Orçamento público.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2005
(4606)
-
▼
setembro
(497)
- A votação mais cara do mundo Bruno Lima Rocha
- LUÍS NASSIF Efeitos dos títulos em reais
- Batendo no muro LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
- Dirceu entre a inocência e a onipotência MARCELO C...
- ELIANE CANTANHÊDE Nova República de Alagoas
- CLÓVIS ROSSI O país do baixo clero
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO O ELEITO DE LULAL
- DORA KRAMER Agora é que são elas
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Despudores à parte
- João Mellão Neto Como é duro ser democrata
- Roberto Macedo Na USP, uma greve pelas elites
- EDITORIAL DE O GLOBO Cidade partida
- MERVAL PEREIRA O gospel da reeleição
- Luiz Garcia Juiz ladrão!
- MIRIAM LEITÃO Políticas do BC
- Raça, segundo são João Jorge Bornhausen
- Cora Rónai Purgatório da beleza e do caos
- Fundos e mundos elegem Aldo
- EDITORIAL DE O GLOBO Desafios
- A Derrota Política do Governo!
- MERVAL PEREIRA Vitória do baixo clero
- MIRIAM LEITÃO Sem medidas
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Atrasado e suspeito
- DORA KRAMER Muito mais do mesmo
- LUÍS NASSIF Indicadores de saneamento
- ELIANE CANTANHÊDE Vitória das elites
- CLÓVIS ROSSI A pouca-vergonha
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO NORMA ANTINEPOTISMO
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO DESVIOS SEMÂNTICOS
- Aldo vence, dá gás a Lula e esperança aos "mensale...
- JANIO DE FREITAS Dos valores aos valérios
- EDITORIAL DO JB A vitória da barganha
- AUGUSTO NUNES Berzoini foi refundado
- Se não se ganha com a globalização, política exter...
- Fome de esquerda Cristovam Buarque
- A valorização do real em questão
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO A debandada dos p...
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Precisa-se de ger...
- Ineficiência fiscal e a 'Super-Receita' Maurício M...
- DORA KRAMER Adeus às ilusões
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO OS DEPUTADOS DECIDEM
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO MAIS DO MESMO
- CLÓVIS ROSSI Cenas explícitas de despudor
- FERNANDO RODRIGUES Uma Câmara submissa
- ELIO GASPARI Bicudo foi-se embora do PT
- LUÍS NASSIF A discussão do saneamento
- "Upgrade" PAULO RABELLO DE CASTRO
- EDITORIAL DE O GLOBO Gastamos mal
- EDITORIAL DE O GLOBO Chávez fracassa
- No governo Lula, um real retrocesso HÉLIO BICUDO
- MIRIAM LEITÃO Das boas
- MERVAL PEREIRA A base do mensalão
- A frase do dia
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Desculpas não bastam
- Jóia da primavera Xico Graziano
- Oportunidade perdida Rubens Barbosa
- DORA KRAMER Com aparato de azarão oficial
- LUÍS NASSIF Os caminhos do valerioduto
- JANIO DE FREITAS Esquerda, volver
- ELIANE CANTANHÊDE Todos contra um B
- CLÓVIS ROSSI A crise terminal
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO FRAUDES NO APITO
- Diferença crucial RODRIGO MAIA
- EDITORIAL DE O GLOBO Dois governos
- Arnaldo Jabor Manual didático de ‘canalhogia’
- MIRIAM LEITÃO Além do intolerável
- MERVAL PEREIRA Espírito severino
- AUGUSTO NUNES Os bandidos é que não passarão
- A crueldade dos humanistas de Lancellotti Por Rein...
- O Cavaleiro das Trevas
- Juristas Dizem Que Declarações DE DIRCEU São Graves
- O PT e a imprensa Carlos Alberto Di Franco
- A outra face de Lacerda Mauricio D. Perez
- Reinventar a nação LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
- VINICIUS TORRES FREIRE Urubus políticos e partidos
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO CHÁVEZ E A POBREZA
- AUGUSTO NUNES Os gatunos estão em casa
- MERVAL PEREIRA O fator Mangabeira
- João Ubaldo Ribeiro Mentira, mentira, mentira!
- MIRIAM LEITÃO Eles por eles
- DORA KRAMER Um perfil em auto-retrato
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Contraste auspicioso
- Gaudêncio Torquato O horizonte além da crise
- São Paulo olhando para o futuro Paulo Renato Souza
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO MOMENTO IMPORTANTE
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO DÍVIDA EXTERNA EM REAL
- CLÓVIS ROSSI As duas mortes de Apolônio
- ELIANE CANTANHÊDE Malandro ou mané?
- LUÍS NASSIF A reforma perdida
- Para crescer, é preciso investir em infra-estrutur...
- FERREIRA GULLAR Alguém fala errado?
- JANIO DE FREITAS Nada de anormal
- Lula também é responsável, afirma Dirceu
- Augusto de Franco, A crise está apenas começando
- Augusto Nunes Uma noite no circo-teatro
- Baianos celebram volta de Lula a Brasília
- Lucia Hippolito Critérios para eleição de um presi...
- MERVAL PEREIRA A voz digital
- MIRIAM LEITÃO O perigo é olhar
- FERNANDO GABEIRA Notas sobre os últimos dias
-
▼
setembro
(497)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA