Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, setembro 19, 2005

Lucia Hippolito Entre a utopia e os dólares na cueca

O ESTADO DE S PAULO

 

Muito bem. Acabou a eleição no PT, e o País pode dormir tranqüilo. Verdade? Mais ou menos. Em primeiro lugar, a eleição acabou, mas a apuração será manual. Na melhor das hipóteses, o resultado será conhecido em quatro ou cinco dias. Em segundo lugar, tudo indica que a eleição do presidente do partido vai para segundo turno, ou seja, só depois de 9 de outubro será conhecido o novo presidente do PT.

Alguns poderão argumentar: e daí, o que é que o País tem com isso? Não é areia demais para o caminhãozinho do PT? Todo mundo fica parado, à espera da definição, para saber, afinal, se José Dirceu continua ou não mandando nos destinos do partido do governo. Pois é disso que se trata. Embora o presidente Lula, símbolo maior do partido, não tenha considerado importante participar pessoalmente do processo eleitoral, como se ele não tivesse nada a ver com os destinos do PT, mesmo tendo passado o fim de semana em São Paulo, a eleição no partido é importantíssima para a construção do quadro político no qual vamos todos viver até as próximas eleições, em outubro de 2006. O que inclui uma saída minimamente negociada para a crise política que paralisa o governo e o Legislativo, engolindo a tudo e a todos. Uma vitória expressiva do Campo Majoritário, tendência que hoje manda no PT, significa o fortalecimento do aparelho comandado por José Dirceu. Mas significa também um forte sinal para o início da diáspora petista. Militantes e parlamentares que ainda nutriam alguma esperança de renovação nos métodos e práticas do partido poderão entender que, se José Dirceu continuar mandando, o PT como partido sanciona as práticas que o antigo grupo dirigente vinha adotando, sob o silêncio complacente e cúmplice de toda a estrutura partidária. Porque não há inocentes nesta história. Mesmo a esquerda petista, que hoje atira pedras em Dirceu, Delúbio e companhia, não pode pretender ignorar os sinais exteriores da riqueza em que nadava a nomenclatura do partido. Não há utopia generosa bastante que abrigue jatinhos, charutos cubanos, automóveis blindados e tantos dólares.

Em suma, trata-se de saber que PT sairá das urnas: o PT de Vladimir Palmeira ou de José Dirceu; o PT de Chico Buarque ou o do Professor Luizinho; o PT de Betinho e Frei Betto ou o PT de Lula, Genoino e dos dólares nas roupas íntimas dos companheiros. Façam suas apostas.

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