Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, setembro 21, 2005

FERNANDO RODRIGUES A Câmara pós-Severino

BRASÍLIA - Severino Cavalcanti prometeu renunciar hoje. No minuto seguinte à saída do rei do baixo clero, uma disputa pesada estará oficialmente aberta pela cadeira de presidente da Câmara -a terceira na hierarquia da República.
O sucessor de Severino terá três tarefas difíceis à frente:
1) presidir as sessões de cassação de até 16 deputados e resgatar um pouco a imagem da Câmara, hoje enlameada por mensalões e mensalinho;
2) comandar a principal Casa do Congresso durante o ano de 2006, quando possivelmente o PT e Lula tentarão um último esforço para se manter no poder;
3) resistir às tentativas casuístas de modificar o sistema político-eleitoral para pior. Os deputados e senadores foram incapazes de fazer uma reforma política nos últimos dois anos e meio. O prazo se esgota em 30 de setembro. Querem alterar a Constituição e postergar essa data para 31 de dezembro -um traço marcante da informalidade institucional indesejável que impera no país.
Na conversa que teve com Severino Cavalcanti na segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu a entender que o PT dificilmente conseguirá emplacar um nome para presidir a Câmara. Lula está certo.
Quase nenhum partido no momento está em condições de pregar a ética. Mas o PT está pior. Sua dívida moral é além do aceitável nesta atual crise. Seria um escárnio o partido do "dinheiro não-contabilizado" ceder um de seus quadros para presidir a Câmara e as votações em que deputados serão -ou não- cassados.
Se a fogueira das vaidades não consumir PSDB, PFL e PMDB, nunca essas três siglas terão tanta facilidade para escolher um presidente da Câmara. O Palácio do Planalto está enfraquecido. Lula tem poucos meios para influir e dificilmente conseguirá virar esse jogo -que está apenas no seu início e não será muito limpo.

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