Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, setembro 21, 2005

CLÓVIS ROSSI Desafio, Brasil e Alemanha

folha de s paulo
 SÃO PAULO - O título do jornal italiano "La Stampa" soa a apocalipse: "La Germania è ingovernabile". Mamma mia.
Se é ingovernável justo a Alemanha, arrumadinha, terceira potência mundial, formidável grau de coesão social, não há país governável no planeta. Antes de cortar os pulsos, convenhamos que é um baita exagero. Como Márcio Senne de Moraes mostrou ontem, nesta Folha, com a usual competência, a Alemanha tem ao menos duas características que desmentem a hipótese.
Primeiro: são pequenas as diferenças entre os dois grandes partidos. Trata-se, no fundo, mais de disputa de egos e apetite pelo poder do que de disputa de projetos.
Segundo: um consenso em torno da responsabilidade coletiva por dar uma vida minimamente digna a todos (traduzido no Estado de Bem-Estar Social).
Um país com essas características nada tem de ingovernável. Na verdade, o que a eleição mostra é a incapacidade de elaborar uma proposta política que seja capaz de combinar três elementos ao mesmo tempo: manter a competitividade da economia no mundo globalizado; conseguir os votos para legitimar a proposta; e preservar, no caso europeu, o modelo social que é, provavelmente, o menos imperfeito que o ser humano concebeu até agora.
Houve antes a tentativa de criar a chamada Terceira Via, como resposta ao tríplice desafio citado. O filósofo Roberto Mangabeira Unger despreza-a com a seguinte ironia: "É neoliberalismo com desconto".
Agora, na Alemanha, surgiu a primeira tentativa de um grupo de esquerda, cisão da social-democracia, de oferecer sua própria via. Não chegou a 10% dos votos.
No fundo, e com adaptações, é esse desafio que permeará a eleição brasileira de 2006. Claro que, aqui, trata-se de criar (não de manter) tanto a competitividade como o Estado de Bem-Estar. É mais difícil e, portanto, mais assustador.

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