Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, setembro 06, 2005

ELIANE CANTANHÊDE O nó Severino

FOLHA DE S PAULO
BRASÍLIA -
Que situação, hein?! Governo, oposições e líderes giram em círculo em torno de uma lista de 18 "cassáveis" e põem na mosca um presidente da Câmara cuja eleição foi recebida como uma grande brincadeira nacional. Uma brincadeira de profundo mau gosto.
Severino era o homem errado, no lugar errado, na hora errada. E isso parecia divertidíssimo. Mas quem brinca com fogo é para se queimar, e estava na hora de o Congresso se queimar, para se respeitar.
A oposição ajudou a eleger Severino presidente da Câmara, mas agora se mobiliza para destituí-lo. E o governo Lula -quem te viu, quem te vê- foi o grande derrotado por Severino, mas hoje arma as barricadas para tentar salvá-lo, porque ele é um dos seus derradeiros aliados num Congresso hostil e sem comando.
A "crise Severino" se aprofundou com a entrevista à Folha em que ele propôs uma "advertência" para os denunciados pelas CPIs. E se tornou crítica com a denúncia de que ele recebia um "mensalinho" do dono do restaurante da Câmara.
Severino é Severino. Essa é sua grande fragilidade e sua grande força. Explica-se: líder do "baixo clero", ele é rejeitado pelo "alto clero", pelos formadores de opinião, pelos partidos mais à esquerda. Essa sua fraqueza. Mas ele é presidente da Câmara, de fato e de direito, e pernambucano e "povo" como Lula. Os dois têm afinidades que só Deus e as paredes da Granja do Torto conhecem. Consideram-se quase inimputáveis e fazem dobradinha.
Com o Congresso no fundo do poço e as relações políticas de pernas para o ar, nada poderia ser mais emblemático do que Severino Cavalcanti, o segundo na linha de sucessão, logo depois do vice-presidente José Alencar. Neste mergulho aos horrores, é melhor que seja assim mesmo. Nada poderia ser pior do que Severino na presidência da Câmara. Logo, qualquer coisa será para melhor.
Com Severino no olho do furacão, a catarse fica ainda mais perfeita.

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