Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, setembro 06, 2005

CLÓVIS ROSSI Os 300 culpados

FOLHA DE S PAULO
SÃO PAULO - O problema de ter Severino Cavalcanti como presidente da Câmara não é apenas a suspeita do "mensalinho". O problema é o fato de ele ter sido eleito para o cargo por 300 de seus pares.
Severino não foi eleito pelas suas qualidades, no discutível pressuposto de que tenha alguma. Foi eleito justamente por seus defeitos, pela sua defesa corporativa das indecentes vantagens dos deputados.
Foi eleito também porque uma parte significativa da oposição resolveu fazer uma brincadeirinha indecente e irresponsável de "ah, vamos cutucar o PT e derrotar o candidato do governo". Joguinho cretino a que não poucos deputados se dedicam.
Claro que contribuiu também a tsunâmica incompetência do PT/ governo Lula.
Tudo somado, tem-se que 300 deputados escolheram um perfeito inepto para chefiá-los. E ainda houve analista que enxergou nessa triste figura um "estadista popular", uma estupidez que custa a crer tenha sido posta no papel.
Agora que há uma crise e, como em toda crise, necessita-se de lideranças capazes de lidar com ela com alguma habilidade (veja que não estou exigindo demais de um país seco de lideranças e idéias), tem-se Severino Cavalcanti como presidente da Câmara. Ou seja, nada.
Vem-se então com a solução de afastá-lo. Desde que dentro das regras do jogo, pode-se fazê-lo, mas seria de um cinismo insuportável se o afastamento não viesse acompanhado de um grito de desculpas de seus 300 eleitores (sussurros como os de Lula não resolvem).
Repito agora o que escrevi quando Severino foi eleito: "O Brasil, ou ao menos o seu Parlamento, se assume de uma boa vez como república bananeira. (...) A esculhambação é, afinal, assumida de público, a esbórnia é oficializada e o país deve virar o faz-me-rir do planeta. Parabéns".
Se eu, que sou ingênuo e tolinho, sabia, vai me enganar que os deputados não sabiam?

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