Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, setembro 09, 2005

EDITORIAL DE O GLOBO Rumo à cassação




A confirmação da existência de um documento de abril de 2002 em que o então primeiro-secretário da Câmara, Severino Cavalcanti, garantia ao empresário Sebastião Augusto Buani a prorrogação do contrato de concessão de um dos restaurantes da Casa já havia sido um forte baque para o deputado.

Divulgado pelo site da revista "Veja" na terça-feira, o documento dava consistência à denúncia de que o presidente da Câmara, quando respondia pela administração da Casa, havia cobrado um "mensalinho" a Buani em troca da extensão da concessão.

Izeilton Souza, ex-gerente do restaurante explorado por Buani, confirmou o achaque na Polícia Federal e, num golpe fatal em Severino, ontem Buani acrescentou detalhes a esse caso inédito, em que o segundo homem na sucessão e terceiro na hierarquia da República usou o poder de criar dificuldades para vender facilidades em troca de propinas.

A não ser que algo surpreendente venha a acontecer, não há alternativa: o presidente da Câmara tem de ser cassado. O que ocorrerá num momento muito especial da vida política, quando a própria Câmara se prepara para examinar o pedido de expulsão de vários deputados envolvidos no escândalo do propinoduto construído pela cúpula do PT e Marcos Valério para a compra de apoios e adesões de parlamentares e o financiamento de campanhas.

A história contada por Sebastião Buani é por si só escabrosa, suficiente para fundamentar o pedido de defenestração de Severino da vida política. Se considerarmos o momento político, mais necessária ainda é a degola do presidente da Câmara — cumprido, é claro, todo o ritual estabelecido pelo regimento.

A cassação de Severino pode significar para o Congresso e a classe política um freio e até a reversão no acelerado processo de deterioração de imagem em curso desde o momento em que Roberto Jefferson denunciou o mensalão e o propinoduto. Severino, líder do baixo clero, beneficiado na escolha do presidente da Casa por erros do PT e pelo oportunismo oposicionista, simboliza o que há de pior na política brasileira: o clientelismo, a fisiologia, o nepotismo e, agora, a corrupção.

Puni-lo significa fazer uma opção pelo restabelecimento da ética na vida política.

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