Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 03, 2005

EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Delação castigada



O fato de o deputa do Roberto Jefferson (PTBRJ) vir a ser o primeiro parlamentar cassado e a ter os direitos políticos sus pensos, dentro do amplo universo dos suspeitos de corrupção, de compra e venda de apoios legislativos (mensalão), de uso da máquina da administração pública para financia mento partidário, da utilização de caixa 2 em campanhas eleitorais e inúmeras falcatruas correlatas que, avaliadas pelo mínimo, constituem gritantes quebras de decoro, pode parecer um verdadeiro paradoxo.
Afinal, não fosse a delação do
deputado fluminense, todo esse tenebroso mar de lama, en volvendo dois Poderes da República, certamente permaneceria oculto e emparedado para a opinião pública brasileira. Indiscutivelmente o deputado Jefferson prestou um inestimá vel serviço ao País - com todos os 'estragos' que causou ao governo, ao principal partido e a tantas figuras 'proeminentes' do meio político - ao descerrar a cortina que escondia um cenário inacreditável de vícios de nosso espaço público-político.
Mas quando dizia que 'sublimava seu mandato', ao derru
bar, qual pinos de boliche, as mais importantes personagens do governo Lula e do PT, à medida que praticamente todas as suas acusações iam se confirmando, o deputado Roberto Jefferson demonstrava plena consciência de que não haveria de sair incólume do furacão causado por sua demolidora oratória, forjada em longa experiência parlamentar e na atuação em centenas de júris.
Talvez o tenha surpreendido,
apenas, a unanimidade (de 14 votos a 0) com que o Conselho de Ética da Câmara dos Depu tados aprovou, depois de 87 dias de trabalho, o pedido de cassação de seu mandato, proposto pelo relator Jairo Carneiro (PFL-BA) - aspecto que de certo dificultará sua defesa, a ser feita no plenário da Câmara nos próximos dias, tendo em vista evitar que a maioria abso luta da Casa delibere a favor de seu alijamento e inelegibilidade por oito anos.
Como não poderia deixar de
ser, em se tratando de figura controvertida ao extremo, o deputado Jefferson mereceu um
APENAS UM PEQUENO PORCENTUAL DOS SUSPEITOS ESTÁ SOB RISCO DE CASSAÇÃO
misto de condenação e reconhecimento de seus pares, em avaliações como estas: 'Jeffer son é réu confesso de haver participado do esquema, que denunciou para, em suas palavras, levar (nas costas) esses escorpiões da cúpula do PT junto' (Gustavo Fruet - PSDBPR); 'Denunciar um esquema espúrio não isenta o denunciante' (Chico Alencar - PT-RJ); 'Ele considerou que todos estão no mesmo patamar de in dignidade. Foi ruim' (Benedito De Lira - PP-AL); 'Jefferson prestou serviço ao País. Ele permitiu desvendar o esquema' (Josias Quintal - PMDBRJ). Quando tanto se fala na controvertida instituição da 'delação premiada', o destino provável do político fluminense - com a avassaladora conseqüência que sua atitude causa ao destino político do País - deve-se ao que se poderia chamar de 'delação castigada', por maior que seja o saneamento ético que venha a provocar.
Neste ponto é fundamental que se entenda que o trabalho de apuração do Conse
lho de Ética da Câmara - tanto quanto o das CPIs - está longe de terminar. Assim, a quantidade de parlamentares envolvidos e dos quais já se pede a cassação de mandatos, como os 18 apontados pelo relatório parcial conjunto das CPIs do Correio e do Mensalão, ainda representa um pequeno porcentual de suspeitos. Pelos depoimentos já prestados e pela mon tanha de documentos que vai sendo examinada - com as sabidas dificuldades técni cas que envolve a manipulação desse volume colossal de informações - já saltam aos olhos provas indiciárias contra um número muitíssimo maior de comprometidos, a confirmar a grande abrangência de escusos be neficiários (de mensalão e/ou caixa 2), indicada pelas personagens centrais desse
grand guignol da corrupção, ou seja, o 'empresário' Marcos Valério de Souza e o próprio deputado Roberto Je fferson.
Pela defesa que fará em plenário o deputado fluminense, pelos novos nomes que deverão engrossar as listas de cassáveis dos próximos relatórios das CPIs e pe lo que deve ainda vir à tona, do trabalho de decifração documental dessas comissões, é grande a expectativa do que possa ocorrer nos próximos dias.

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