EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO TRAGÉDIA AMERICANA

 As imagens dos escombros, dos flagelados em desespero e dos mortos evocam muito mais uma Bangladesh -ou qualquer outro ponto miserável do Terceiro Mundo- do que os EUA, a mais rica e poderosa potência do planeta. Mas o rastro de destruição provocado pelo furacão Katrina afetou principalmente os Estados da Louisiana, do Mississippi e do Alabama, onde várias dezenas de milhares ficaram desabrigados e o número de mortos pode chegar à casa dos milhares.
É claro que não se pode subestimar a força dos ventos. Um furacão de categoria 5 como chegou a ser o Katrina é capaz de causar enorme devastação. O que surpreende é o relativo despreparo dos EUA para lidar com as conseqüências da intempérie. Falhas graves se deram em todos os níveis, da engenharia ao socorro, passando pela logística e a segurança. Vale lembrar que furacões, diferentemente de tsunamis e terremotos, podem ser previstos com mais de uma semana de antecedência.
Pelo menos os diques que mantêm seca uma cidade que fica abaixo do nível do mar, como é o caso de Nova Orleans, precisariam ter sido capazes de suportar a tormenta. É também problemático o fato de que as evacuações determinadas pelo poder público não tenham sido cumpridas. Aqui, a dificuldade parece ter sido a precária distribuição de renda. Ficaram os negros e hispânicos -isto é, os mais pobres. Convertem-se agora nas principais vítimas.
As autoridades federais em particular se mostraram incapazes de prover logo com socorro víveres e segurança as áreas mais duramente atingidas. A lentidão da resposta foi -e continua sendo- exasperante. Para piorar um pouco mais o quadro, parte das guardas nacionais, que costumam atuar nessas horas, está servindo no Iraque, o que pode ter agravado o problema da segurança.
A opinião pública dos EUA espera que os governos e agências envolvidos recobrem a iniciativa e consigam rapidamente imprimir alívio mais significativo às vítimas. A cada dia sem ajuda, aumenta o desespero e produzem-se mais tragédias dentro desta chocante catástrofe.