Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, setembro 21, 2005

EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO ESQUERDA OBTUSA

É voz corrente em setores da esquerda brasileira a impressão de que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, é um modelo de estadista. Em ciclo de palestras realizado nesta semana pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, esse despautério veio à tona novamente.
O escritor paquistanês Tariq Ali afirmou que o problema atual do Brasil é o fato de não ter seguido a trilha "bolivariana" aberta por Chávez. Segundo ele, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi uma decepção para os brasileiros por ter ignorado o exemplo do país vizinho e se preocupado em respeitar a integridade das instituições.
Editor da "New Left Review" e autor de influência sobre parte da esquerda no Brasil, Ali expressa um ranço antidemocrático que se propaga por seus seguidores brasileiros em plena crise política que abala o governo petista. É como se a falência ética do PT tivesse origem na falta de radicalidade das propostas petistas, e não no desvio de conduta de muitos de seus principais dirigentes.
A gestão Lula até ameaçou pender para o centralismo excessivo. Basta recordar o projeto de criar o Conselho Federal de Jornalismo, felizmente abortado. Em que pesem algumas recaídas populistas do presidente, não é possível imputar à sua administração, até aqui, a opção pelo autoritarismo estatal.
Chávez, pelo contrário, liderou nos últimos seis anos um processo político centralizador. Subordinou diversas instâncias a seus interesses, da estatal de petróleo ao Supremo Tribunal de Justiça. Associou-se ao ditador cubano, Fidel Castro, de quem importa modelo e recursos para uma ligação direta com a população que não dispensa o controle ideológico.
Num momento em que florescem propostas obtusas de radicalização de esquerda, não custa lembrar que, se méritos há no governo Lula até o presente, entre eles está o fato de não ter seguido o exemplo de Chávez.

Arquivo do blog