Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, setembro 07, 2005

EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO ESCALADA CHAVISTA

 Em mais um ato de sua "revolução bolivariana", o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, se prepara para aumentar o controle estatal sobre os bancos privados de seu país.
Segundo relata o correspondente do jornal "Financial Times", em Caracas, os presidentes de diversas instituições bancárias foram informados por Trino Alcides Diaz, superintendente do setor, que Chávez planeja impor dois representantes do governo no conselho de cada uma delas. Trata-se de um golpe contra princípios elementares de mercado, que chama a atenção para os riscos de uma ofensiva contra as liberdades, já evidentes em diversos setores da vida pública venezuelana.
Com efeito, amparado em suas anacrônicas convicções ideológicas (basta dizer que vê em Fidel Castro um exemplo a seguir), Chávez faz campanha pelo que descreve como o "socialismo do século 21". Na realidade, não há nada de novo.
No caso dos bancos, a idéia é alojar "comissários políticos" em instituições privadas na tentativa de incrementar a influência estatal sobre a administração dos recursos. Ao mesmo tempo, empresas privadas, caso queiram tomar empréstimos de bancos oficiais, estão sendo solicitadas a destinar em seus conselhos uma representação de 20% aos trabalhadores. O contexto em que a exigência é formulada apenas reforça as apreensões sobre os destinos da sociedade venezuelana.
Chávez tem se beneficiado de um crescimento econômico fora do comum, em razão dos espetaculares aumentos do preço do petróleo. A Venezuela é o quinto maior exportador do mundo. Depois de uma queda de 7,7% no PIB, em 2003, a economia venezuelana cresceu 17,9% no ano passado. Os ganhos têm permitido a implementação de programas populistas e assistencialistas, que beneficiam os setores mais pobres da população, tradicionalmente preteridos pelos governantes.
O presidente venezuelano aproveita-se dos bons ventos econômicos para aumentar seu prestígio e dar curso à sua pregação anticapitalista. Embora improvável, o avanço de um processo que conduza à organização de uma ditadura de esquerda no país vizinho precisa ser veementemente rechaçado pelos países da região, entre os quais o Brasil.
É verdade que a oposição venezuelana já deu inequívocos sinais de golpismo. Mas isso não basta para proteger Chávez das críticas que a ele têm de ser dirigidas pelos que prezam e defendem a democracia.

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