Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, setembro 07, 2005

Lucia Hippolito Fora isso, é golpe

BLOG NOBLAT

 

" Severino Cavalcanti é presidente da Câmara porque foi eleito. Não usurpou, não deu um golpe de estado, não recebeu de herança. Foi eleito.

 

Mesmo antes da eleição, todo mundo sabia quem era Severino Cavalcanti. Um político antigo, clientelista, nepotista, corporativista e outros "istas" que caracterizam o que há de mais arcaico e carcomido na política brasileira.

 

Uma vez eleito, Severino não desapontou. Desandou a falar maluquices em todos os fóruns para os quais era convidado. Dava palpite sobre tudo e sobre qualquer coisa.

 

Vaiado, ridicularizado, nem assim Severino se deu por achado. E foi avançando, sem perceber que estava indo longe demais. Parece que acreditou mesmo que sua presença na presidência da Câmara era a última barreira entre um eventual processo de impeachment e o presidente da República.

 

O presidente Lula, por sua vez, parece ter encontrado em Severino uma alma gêmea. Ambos pernambucanos, ambos homens simples que chegaram a lugares nunca sonhados, ao ponto mais alto de suas carreiras, ambos homens que levam ao máximo o elogio ao charme da ignorância.

 

Aliás, o presidente Lula não tem tido sorte com seus aliados. Além de ver seus antigos e fiéis companheiros mergulhados no escândalo do mensalão, depois de ter que aceitar a demissão do principal arquiteto de sua vitória em 2002, depois de chamar Roberto Jefferson de parceiro e de dizer que lhe daria um cheque em branco e dormiria tranqüilo, o presidente Lula ainda tem que passar pelo constrangimento de ter condecorado o deputado Severino Cavalcanti com a mais alta comenda da República e assistir, 24 horas depois, ao surgimento das últimas denúncias, desta vez envolvendo seu mais novo amigo de infância. Quem? O deputado Severino Cavalcanti.

 

Mas tudo isto não apaga o fato concreto de que Severino é presidente da Câmara dos Deputados porque foi eleito para o cargo. Portanto, qualquer tentativa de afastá-lo é golpe.

 

Tentar convencê-lo a renunciar pode ser inútil, porque a renúncia é um ato unilateral. Cabe a Severino, e só a ele, decidir se e quando vai renunciar à presidência da Câmara.

 

A única saída politicamente aceitável é a abertura de um processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Câmara. Se o mandato de Severino for cassado, aí sim, automaticamente, ele deixa de ser presidente da Câmara.

 

Fora disso, é golpe. Não tem outro nome. Se a oposição embarcar nessa, estará dando razão àqueles que vêm insistindo no delírio conspiratório de um golpe das elites."

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