EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO EM BUSCA DAS FONTES

 Após mais de quatro meses de escândalos, finalmente foi aberta uma linha de investigação que poderá apurar a origem dos recursos que abasteciam o esquema do "mensalão". Ao contrário do que seria de esperar, não partiu de nenhuma das CPIs em curso, mas da chamada "Super-Receita", uma fusão da Secretaria da Receita Previdenciária com a Secretaria da Receita Federal. O órgão abriu 36 fiscalizações para averiguar a situação de empresas e contribuintes envolvidos nas denúncias investigadas pelas CPIs do Mensalão, dos Correios e dos Bingos.
A "Super-Receita" instaurou os procedimentos a partir de uma lista de cerca de 200 "suspeitos" -pessoas físicas e jurídicas. Entre eles, vale notar, estão alguns dos 18 deputados citados por quebra de decoro parlamentar em relatório conjunto das CPIs dos Correios e do Mensalão. A devassa se estenderá, também, aos dados de cônjuges, parentes próximos e sócios dos citados.
A despeito da abrangência e da seriedade que as apurações da Receita possam demonstrar, seria recomendável que também as comissões de inquérito seguissem essa linha, passando a se dedicar, como prometeu a dos Correios, à investigação das fontes que financiaram os esquemas de corrupção. Daqui a pouco, terão início os processos de cassação e, certamente, alguns deputados serão punidos, mas se corre o risco de que os donos do dinheiro permaneçam incógnitos. Nesse caso, por expressivo que venha a ser o número de parlamentares cassados, restará ao fim dos trabalhos uma inequívoca sensação de impunidade.
Se os deputados e senadores que integram as CPIs desejam resgatar em alguma medida o desgastado prestígio do Legislativo, é indispensável que as comissões não se restrinjam à tediosa rotina de depoimentos improdutivos que tem marcado a dinâmica dos trabalhos.
É preciso que se entreguem a um esforço investigativo sério e analisem as pilhas de documentos bancários e fiscais que recolheram em busca das origens dos recursos.