Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, setembro 06, 2005

EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO O PT em ponto morto



Foi à garra no último fim de semana qualquer coisa parecida com a "refundação" do PT de que ainda fala o seu presidente interino Tarso Genro - sintomaticamente alijado da disputa pelo comando do partido, na eleição do próximo dia 18, pelo petista mais igual do que os iguais, José Dirceu. Reunido no sábado para julgar o relatório da Comissão de Ética da legenda, recomendando a expulsão do ex-tesoureiro Delúbio Soares, o Diretório Nacional petista foi surpreendido com a notícia de que a Justiça concedera na noite anterior a Delúbio liminar proibindo que o órgão partidário o julgasse. Valendo-se disso, o Campo Majoritário, que controla o diretório e é por sua vez controlado por Dirceu, agiu como o controlador de uma vasta rede de pizzarias.

A primeira pizza tamanho família a sair do forno foi a decisão de não submeter à mesma Comissão de Ética os deputados petistas envolvidos no escândalo dos saques nas contas de Marcos Valério. Proposta nesse sentido do Bloco Parlamentar de Esquerda foi derrotada por 30 votos a 23, aliviando a situação dos companheiros cuja cassação foi pedida em conjunto pelos relatores das CPIs dos Correios e do Mensalão. Sem enrubescer, os majoritários resolveram que os seus casos serão examinados nos próximos 30 dias por uma comissão de sindicância dominada por eles mesmos.

Esse domínio se acentuou ainda mais com a renúncia de 2 dos 3 membros originais do colegiado instituído semanas atrás no PT exatamente para aquele fim. No seu lugar entraram dois membros do Campo - um deles, é de pasmar, ligado ao cassável Paulo Rocha, que admitiu ter recebido R$ 920 mil de Marcos Valério.

A segunda megapizza foi produzida pela esperteza de tomar carona na liminar obtida por Delúbio para amordaçar e, afinal, invalidar o relatório da Comissão de Ética cujos desdobramentos ficaram suspensos. A esquerda petista queria que fossem identificados os dirigentes que, segundo o documento, montaram "um núcleo que substituiu as instâncias do partido nas decisões administrativas e financeiras". Nesse PT do B, o tesoureiro executava ordens literalmente superiores.

O Campo tem todos os motivos do mundo, mais alguns, para manter na sombra os nomes desses mandantes. Até o refundador Tarso Genro acabou se associando a essa enormidade. Embora endossasse o juízo do diretório, segundo o qual a comissão "trabalhou de maneira correta" e apresentou um texto "suficientemente fundamentado" em favor da expulsão de Delúbio, recusou-se a comentar o relatório sob o preciosismo de que ele "não tem mais eficácia". (Agora a nova comissão de sindicância tem um prazo de 30 dias para fazer outro relatório.) No mesmo fôlego, disse que o PT "não tem aparato para fazer uma investigação policial" sobre todos os implicados - sabendo, decerto, que não é bem isso que se cobra do outrora partido da ética. Já a enrolação petista no caso de Delúbio fica à mostra quando se nota que, supondo resolvida em favor do partido a quizília judicial, o Diretório Nacional, a única instância estatutariamente apta a expulsar um filiado, só deverá se reunir de novo em dezembro, quando toma posse a direção eleita este mês.

Outro estranho arranjo assegura que os companheiros flagrados pela investigação parlamentar permanecerão na chapa do Campo, mas, se ela for vitoriosa, como parece provável, não assumirão os seus cargos até o desfecho das apurações dos escândalos. Dirceu, esbanjando jogo de cena, diz não ter mais "vontade" de ser dirigente do PT, mesmo se for inocentado. Ele esbanjou outra coisa ainda - ameaças - a julgar por relatos da reunião do Campo, na sexta-feira. Dizendo carregar "peso demais nas costas", avisou que fará uma "avaliação profunda" dos seus últimos 10 anos, 2 dos quais no governo. Quer "discutir inclusive com o presidente Lula". "Vou expor erros e mostrar responsabilidades", advertiu. A sua avaliação poderá não ser profunda. Mas será rápida. Porque ele teria afirmado também: "A partir da semana que vem, a quem perguntar respondo." É o que explica o ponto morto do PT.

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