Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, setembro 22, 2005

EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO DEPOIS DE SEVERINO

A breve passagem de pouco mais de sete meses de Severino Cavalcanti pelo segundo posto na ordem da sucessão presidencial da República felizmente é página virada. Assolado por evidências contundentes de corrupção miúda, renunciou ontem -à presidência da Câmara e ao mandato parlamentar- em discurso que não entrará para a história.
Os erros em cadeia que culminaram na sua eleição, porém, ficam como um farol a iluminar aspectos nodais para a recuperação da imagem da Câmara, hoje ao rés-do-chão. Os deputados federais precisam eleger, num processo o mais sereno e negociado possível, um representante qualificado para suceder a Severino, sem arestas visíveis ou prováveis no campo ético e com discernimento de "magistrado" para uma missão curta mas fundamental para o país.
O governismo deve ter consciência da pequenez de seu momento político e não tentar forçar nenhuma solução, quanto menos as que acenem para uma obstrução dos processos de cassação de mandatos de parlamentares e do trabalho de apuração das CPIs. Tampouco o desejo, ao cabo desastroso, de "dar uma lição" no governo, que moveu grossa parcela da oposição a descarregar votos (foram 300) em alguém da estatura de Severino deveria se repetir.
Quanto ao trabalho das CPIs, o depoimento de um doleiro anteontem às comissões de inquérito concedeu mais verossimilhança à tese de que o esquema de corrupção que se abate sobre o governo Lula tem uma grande ramificação no exterior, o que vai exigir empenho e capacidade técnica redobrados dos parlamentares. Vai exigir, também, que o novo presidente da Câmara despeje todo o seu peso político e institucional para que braços do Executivo colaborem na tarefa de coletar informações importantes com celeridade.
Em suma, o próximo chefe da Câmara dos Deputados deve assegurar que as investigações sobre o escândalo de corrupção se aprofundem e cheguem aos financiadores do "valerioduto". Deve zelar, também, para que os processos de cassação de deputados federais envolvidos nos desmandos sigam seu curso sem serem ameaçados por nenhuma espécie de acordo que redunde em "pizza".

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