O ESTADO DE S PAULO
Pela primeira vez, Lula não tem mais saldo na conta de avaliação positiva O escândalo Waldomiro Diniz ainda fazia seus estragos em junho de 2004, quando a avaliação de desempenho, a aprovação do governo e a confiança no presidente Luiz Inácio da Silva atingiram seu pior momento desde a posse, um ano e meio antes, mas, ainda assim, o saldo era positivo. A pesquisa CNI/Ibope divulgada ontem revela, pela primeira vez em dois anos e nove meses incompletos, um déficit na conta de perdas e ganhos de Lula. Realmente a situação não é boa para quem, se quiser, pode se candidatar a mais quatro anos de governo. Não por ausência de possibilidade de recuperação. Afinal, depois daquele malfadado junho de 2004, os índices de confiança pessoal, desempenho administrativo e aprovação de governo voltaram a subir, só retomando o declínio no segundo mês da crise iniciada com a denúncia de corrupção nos Correios. Em tese, não se pode descartar a hipótese da volta por cima. O que dificulta sua realização, entretanto, é o cruzamento das linhas positiva e negativa numa trajetória inversa à que vinha mantendo os índices bons sempre mais elevados que os ruins. Em junho de 2004, quando a avaliação "ótimo/bom" de governo caiu para 29%, eram apenas 26% os que escolhiam a opção "ruim/péssimo". Agora em setembro a pesquisa mostra os mesmos 29% de "ótimo/bom", mas os que escolheram "ruim/péssimo" subiram para 32%. Ocorre o mesmo nos quesitos confiança no presidente e aprovação de governo. Para evitar excesso de repetição de números, fiquemos no detalhamento do item confiabilidade , que pode também ser traduzido como o nível de credibilidade pessoal de Lula. Os confiantes eram 54% em junho de 2004 - o pior momento antes do atual - e os não confiantes eram 43%. Saldo de 11 pontos porcentuais. Agora, o índice dos confiantes desceu para 44% e o dos não confiantes cresceu para 51%. Um déficit de 7 pontos porcentuais. No item aprovação e desaprovação, também a conta resulta em menos 4 pontos porcentuais. Nem falemos dos 49% que, se fossem chamados por ele a opinar, diriam ao presidente para não se candidatar em 2006 ou dos 50% dos eleitores do PT em 2002 que hoje não repetiriam o voto em Lula. O crescimento daquilo que poderia ser lido como índice de rejeição, se não sofrer um recuo nas próximas pesquisas, acabará chegando ao nível apontado pelo próprio presidente Lula dias atrás, no comentário feito a respeito da queda de popularidade registrada na pesquisa anterior, da CNT/Sensus. "Se fosse outro, já estaria com os índices abaixo de zero", disse o presidente quase a título de comemoração diante de números que, segundo se depreende da frase, poderiam ser bem piores, dada a magnitude da crise. Sem quartel PT e governo resolveram reagir no grito, voltando a distribuir acusações na tentativa de sair da defensiva. Já deu certo outras vezes, mas agora a situação está adversa, pois faltam ao partido tropa e munição. Qualquer semelhança Severino Cavalcanti desistiu da presidência da Câmara prometendo resistir - dizendo uma coisa e fazendo outra, portanto -, jactando-se de suas tão fenomenais quanto inéditas realizações, exaltando sua origem pobre de homem desprovido de estudos, dizendo-se vítima de calúnias, preconceito e perseguição das elites. Não fugiu, assim, do roteiro seguido por outros personagens do espetáculo em cartaz. Alívio geral A melhor tradução da excelente oportunidade que Severino Cavalcanti, com sua conduta indecorosa, ofereceu para a Câmara se redimir da exorbitância cometida em fevereiro último foi a ausência de comoção parlamentar ao ato de renúncia. Lido o discurso, registrada a manifestação estudantil das galerias, o presidente interino, José Thomaz Nonô, anunciou o envio da "matéria à publicação" e a vida voltou imediatamente ao normal. Agenda positiva O líder do PTB na Câmara, José Múcio, assegura que a candidatura de Luiz Antônio Fleury à presidência da Casa não está posta para servir de instrumento de negociação. Segundo ele, o petebista disputará o cargo e seu nome não será retirado pelo simples motivo de que o PTB precisa urgentemente se reintegrar na agenda política. "São 120 dias durante os quais o partido só foi citado em assuntos de polícia, é fundamental agora a nossa presença num embate de natureza política." Além disso, José Múcio lembra que a retirada da candidatura implicaria uma aliança com um candidato do governo ou da oposição e, nesta altura dos acontecimentos, o PTB não quer dar a impressão de ser aliado incondicional do Planalto nem de ter rompido com o governo. SP Decisão recente do Supremo acabou com privilégio e levou Maluf à cadeia BRASÍLIA Nos últimos anos, a história do País registra prisões de ex-autoridades que foram acusadas de crimes e perderam o direito ao foro privilegiado. O episódio mais recente envolve o ex-prefeito Paulo Maluf e seu filho Flávio, que estão presos há 12 dias por ordem de uma juíza federal de primeira instância. Os advogados de defesa queriam que o caso fosse transferido para o Tribunal Regional Federal (TRF), com o argumento de que, como ex-prefeito, ele teria direito a foro privilegiado. Mas uma decisão tomada na semana passada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) sepultou as esperanças de Maluf e de outras ex-autoridades. O plenário do Supremo concluiu que o foro acaba quando a autoridade deixa o cargo público. Um dos casos mais rumorosos ocorreu em 2002. O então ex-senador Jader Barbalho foi preso por ordem da Justiça Federal de primeira instância do Tocantins. O juiz Alderico Rocha dos Santos determinou a prisão de 11 pessoas acusadas de cometer fraudes na extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Jader foi até algemado. Outra ex-autoridade que passou uma temporada na prisão foi o ex-deputado federal Sérgio Naya. Em 1999, a juíza Érica de Paula Rodrigues, do Rio de Janeiro, decretou a prisão preventiva de Naya, dono da Construtora Sersan, responsável pelo edifício Palace II, que desabou no Rio de Janeiro em 1998, matando oito moradores. O ex-deputado Hildebrando Paschoal também foi preso depois de ter seu mandato cassado pela Câmara. Ele foi condenado em março a 25 anos e 6 meses de prisão pelo Tribunal do Júri da Justiça Federal de Brasília, num processo em que era acusado de envolvimento em homicídio de um policial.
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Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, setembro 22, 2005
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