Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, setembro 13, 2005

EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO CÚPULA PROBLEMÁTICA

 Começa amanhã a mais ambiciosa das cúpulas das Nações Unidas. Entre os dias 14 e 16, líderes políticos de todo o mundo tentarão colocar-se de acordo em relação a temas de importância vital para o futuro do planeta. O "timing" da reunião dificilmente poderia ser mais oportuno. Ela ocorre no aniversário de 60 anos da ONU, após a controvérsia em torno da invasão do Iraque e em meio a um escândalo de corrupção que envolve altas figuras da organização. Ocorre também num momento em que a ONU vem mostrando limitações institucionais para lidar com questões tão importantes como terrorismo internacional, crises humanitárias, genocídios e armas de destruição em massa.
Pelo "script", os dirigentes adotariam na cúpula desta semana um documento que daria conta da reforma da ONU e de vários itens altamente controversos. O plano, porém, não se concretizará. A preocupação dos organizadores já é com a contenção dos danos que resultarão do fracasso da reunião. Para ter uma idéia do grau de dissenso, basta recordar que os EUA, após a designação de seu novo embaixador na organização, John Bolton -cujo apelido é John Wayne, numa alusão ao ator que se celebrizou interpretando "cowboys"-, apresentaram uma lista com nada menos que 700 emendas ao texto de apenas 36 páginas.
Os principais pontos de atrito são a reforma do Conselho de Segurança (CS) e da Comissão de Direitos Humanos, definições para terrorismo, uso da força e intervenções humanitárias bem como a não-proliferação nuclear. Em nenhuma dessas matérias há consenso.
O caso mais flagrante talvez seja o da reforma do CS, capítulo no qual o Brasil deverá sofrer uma importante derrota. Apesar de ter centrado todos os seus esforços diplomáticos nos últimos anos para obter uma cadeira permanente no Conselho, o Itamaraty está prestes a ver seu sonho naufragar em meio a centenárias disputas entre países. A proposta conjunta apresentada por Brasil, Japão, Alemanha e Índia, o chamado G-4, encontra oposição da China (que não quer ver o Japão promovido a potência diplomática) e dos EUA (que preferem manter o "statu quo").
Não há dúvida de que a ONU precisa adequar-se às mudanças ocorridas no cenário internacional e caminhar na busca de mecanismos multilaterais de decisão. A mais ambiciosa de suas reuniões, contudo, provavelmente terminará também como uma das mais frustrantes.

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