Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, setembro 20, 2005

EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO CABRESTO VERMELHO

Nada do outrora chamado "patrimônio ético" do PT parece resistir a uma pequena investigação. Neste fim de semana, caiu por terra mais um mito da série: o de que a democracia petista se exibiria, mais do que em qualquer outro partido político brasileiro, no seu processo de eleição direta de dirigentes.
Bastou a votação de domingo ser acompanhada mais de perto pela imprensa -interessada no efeito sobre a continuidade da legenda do escândalo de corrupção que envolve lideranças do partido- para um festival de práticas irregulares emergir.
Um motorista de van disse que, a R$ 100 e mais R$ 1 a cabeça, transportava militantes até o local do voto. O preço mínimo de compra de sufrágios foi R$ 5 -caciques pagaram esse valor para quitar a contribuição de filiados, que assim ficavam aptos a votar em seu benfeitor. Cola com o número do candidato fazia parte do "kit". O serviço foi personalizado; veículos buscavam filiados em casa.
A reportagem da Folha perguntou a uma dessas pessoas agraciadas com um "city tour" até o local da votação qual seria sua escolha na urna. Resposta: "Deixa eu olhar aqui no papel (...) Não acompanhei nada dessa eleição. Não estou sabendo".
Os termos que definem essa prática -coronelismo, curral eleitoral, voto de cabresto- vêm de longe no tempo e no espaço. São ecos do atraso do Brasil rural da primeira metade do século passado. Mas foram adaptados pelos coronéis de subúrbio da caciquia petista ao país urbano de periferias superpovoadas e igualmente desprovidas.
E basta o leitor atento do noticiário perguntar-se quem financia essa cabrestagem toda para começar a entender as conexões entre o modo petista de conduzir seu rebanho e o de negociar nas altas esferas da política nacional -este tão bem expresso no neologismo "valerioduto". Afinal, o dinheiro do aluguel da van e da compra do voto dificilmente constará de contabilidades oficiais.
Depois desse triste espetáculo, que revela maneiras atrasadas de a liderança tratar seu eleitor direto, fica mais difícil acreditar que o partido esteja determinado a mudar.

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