Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, setembro 20, 2005

CLÓVIS ROSSI Viva o radicalismo

 folha de s paulo
SÃO PAULO -
Até eu, que não gosto de usar o termo radical para designar certos políticos ou correntes políticas, estava caindo no conto e minimizando propostas vindas desse lado, no caso o PSOL.
Refiro-me especialmente à proposta dos deputados Babá (PA) e Luciana Genro (RS) mais João Alfredo (PT) de emendar a Constituição para permitir a autoconvocação do eleitorado com vistas a plebiscito destinado a revogar mandatos.
Babá informa já ter colhido 216 assinaturas, mais do que as 171 necessárias para apresentar a proposta.
É verdade que parece complicado. É possível até que alguns setores chamem a proposta de "chavista", porque o plebiscito revogatório foi inventado, ao menos na América Latina, pela Constituição votada e aprovada durante o mandato do presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
Restrições à parte, parece que a única coisa que realmente faz a maior parte dos parlamentares se mexer é a possibilidade de o eleitorado mexer nos seus mandatos.
Fizeram, ao longo dos anos, uma forte teia legislativa que os protege de todas as maneiras, inclusive das mais absurdas. Um exemplo, entre centenas possíveis: Roberto Jefferson votou na decisão sobre sua própria cassação.
É incrível, não é? O réu sai do banco de acusados, pula o estrado, senta-se ao lado do júri e ainda tem direito a voto. Só acontece no mundo da política -e, desconfio, dessa obscena política brasileira.
Pior: os demais 16 na fila de cassação terão também o direito a voto e certamente votarão em bloco a favor de seus próprios mandatos, apesar de claramente maculados.
E ninguém se espanta, ninguém reclama. Essa escandalosa proteção aos políticos é o verdadeiro radicalismo. Qualquer outra proposta, mesmo que pareça radical, é apenas contraveneno.

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