Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 17, 2005

Diogo Mainardi Yakisoba na linha



veja

"O melhor aspecto de participar de uma
conspiração contra o governo são os
telefonemas.
Fazemos questão de falar
em código, como se o lado de lá pudesse
ter interesse em
grampear nossas conversas"

Tenho falado com muita gente. Um monte de golpistas. Um monte de informantes que prometem me apontar o caminho para derrubar o governo, entregando-me documentos comprometedores sobre a camarilha do PT. O melhor aspecto de participar de uma conspiração contra o governo são os telefonemas. Fazemos questão de falar em código, como se o lado de lá pudesse ter interesse em grampear nossas conversas.

– Estou para receber as reservas de hotel.

– Quando?

– Segunda-feira.

– O quarto tem vista para o mar ou para os fundos?

– Para o mar.

– Quantas estrelas tem o hotel?

– Quatro.

– Tem reserva para a suíte presidencial?

– Claro.

– Qual é a especialidade culinária do restaurante?

– Yakisoba.

De vez em quando, os códigos criam mal-entendidos.

– A bananeira deu frutos.

– Tem banana-nanica?

– Um monte.

– Tem banana-prata?

– Depende de quem a gente quer chamar de banana-prata.

– Banana-prata é aquele que vem logo abaixo do banana-ouro.

– Quem é o banana-ouro?

– O bananão-mor, o bananão supremo, o bananão dos bananões.

– Lula?

– É.

– O bananão dos bananões ainda não está maduro.

– Quando ele cai?

– Daqui a duas semanas.

Até agora, minha maior contribuição para a derrubada do governo foram os artigos das duas últimas semanas, em que contei a origem do "mensalão". O primeiro artigo foi construído inteiramente a partir de deduções. Dei uma finalidade a todas aquelas horas que perdi lendo Rex Stout. Sem sair de casa, sedentário e gordo como Nero Wolfe, encontrei a pista certa para resolver o mistério. O segundo artigo da série, publicado na semana passada, foi uma combinação entre dedução e apuração. Meio a meio. Entrou em ação meu lado Archie Goodwin. Nesta semana, finalmente, preparei-me para revelar o nome do assassino. Reuni todos os suspeitos na sala de estar e, sentado na poltrona, comecei a apresentar o resultado de minha genial investigação. Só que apareceu um problema. Recebi um telefonema urgente de um colega conspirador:

– Lua cheia no dia 22 de setembro.

– Tem certeza?

– Absoluta.

– E o que eu faço agora?

– Eclipse total.

Fui obrigado a interromper o artigo-bomba que estava escrevendo e começar este aqui, no estilo basbaque de Luis Fernando Verissimo. Sinto muito. Não posso derrubar o Lula nesta semana. Prometo derrubar na próxima.

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