veja
"O melhor aspecto de participar de uma
conspiração contra o governo são os
telefonemas. Fazemos questão de falar
em código, como se o lado de lá pudesse
ter interesse em grampear nossas conversas"
Tenho falado com muita gente. Um monte de golpistas. Um monte de informantes que prometem me apontar o caminho para derrubar o governo, entregando-me documentos comprometedores sobre a camarilha do PT. O melhor aspecto de participar de uma conspiração contra o governo são os telefonemas. Fazemos questão de falar em código, como se o lado de lá pudesse ter interesse em grampear nossas conversas.
– Estou para receber as reservas de hotel.
– Quando?
– Segunda-feira.
– O quarto tem vista para o mar ou para os fundos?
– Para o mar.
– Quantas estrelas tem o hotel?
– Quatro.
– Tem reserva para a suíte presidencial?
– Claro.
– Qual é a especialidade culinária do restaurante?
– Yakisoba.
De vez em quando, os códigos criam mal-entendidos.
– A bananeira deu frutos.
– Tem banana-nanica?
– Um monte.
– Tem banana-prata?
– Depende de quem a gente quer chamar de banana-prata.
– Banana-prata é aquele que vem logo abaixo do banana-ouro.
– Quem é o banana-ouro?
– O bananão-mor, o bananão supremo, o bananão dos bananões.
– Lula?
– É.
– O bananão dos bananões ainda não está maduro.
– Quando ele cai?
– Daqui a duas semanas.
Até agora, minha maior contribuição para a derrubada do governo foram os artigos das duas últimas semanas, em que contei a origem do "mensalão". O primeiro artigo foi construído inteiramente a partir de deduções. Dei uma finalidade a todas aquelas horas que perdi lendo Rex Stout. Sem sair de casa, sedentário e gordo como Nero Wolfe, encontrei a pista certa para resolver o mistério. O segundo artigo da série, publicado na semana passada, foi uma combinação entre dedução e apuração. Meio a meio. Entrou em ação meu lado Archie Goodwin. Nesta semana, finalmente, preparei-me para revelar o nome do assassino. Reuni todos os suspeitos na sala de estar e, sentado na poltrona, comecei a apresentar o resultado de minha genial investigação. Só que apareceu um problema. Recebi um telefonema urgente de um colega conspirador:
– Lua cheia no dia 22 de setembro.
– Tem certeza?
– Absoluta.
– E o que eu faço agora?
– Eclipse total.
Fui obrigado a interromper o artigo-bomba que estava escrevendo e começar este aqui, no estilo basbaque de Luis Fernando Verissimo. Sinto muito. Não posso derrubar o Lula nesta semana. Prometo derrubar na próxima.