O ESTADO DE S PAULO
O medo de errar leva o governo a buscar solução em novos e mais profundos erros O temor de ver Severino Cavalcanti substituído, se for o caso, por um deputado de partido da oposição na presidência da Câmara provoca no governo a insensata reação de se aliar a ele para proteger seu mandato e, assim, preservar ao menos um aliado de ocasião, sempre disposto a ceder convicções em troca de conveniências.
A rede de proteção era idéia defendida no Palácio do Planalto aos primeiros acordes da repercussão da denúncia da revista Veja a respeito da prorrogação ilegal da concessão de funcionamento do restaurante da Câmara e todas as suas implicações.
Se perdurar a estratégia, mesmo depois da comprovação documental da infração, o governo estará de novo incorrendo no equívoco já cometido anteriormente por diversas vezes: tentar corrigir um erro cometendo outro bem mais grave.
Proteger Severino a qualquer preço pode produzir a gota d'água do transbordamento final e custar não só a consolidação da queda do apoio popular ao presidente Luiz Inácio da Silva, como provocar uma irreversível debandada do PT - por constrangimento além do suportável - e até mesmo a já delineada derrota do grupo de Lula na direção do partido daqui a dez dias.
Foi assim, patrocinando as próprias desventuras em série, que o governo construiu as fundações da derrocada muito antes da crise em cartaz.
Há exemplos de sobra, sendo o primeiro deles o abandono, por iniciativa de Lula, da interlocução oficial com o PMDB para sustentação parlamentar e o desvio para cooptação de setores do partido e legendas dispostas a trocar apoio por, no mínimo, financiamento das respectivas campanhas eleitorais.
Por receio de se contaminar pela imagem fisiológica dos pemedebistas, Lula aprofundou o fisiologismo. Isso antes da posse.
Nos primeiros meses de governo, o núcleo de poder resolveu dar combate duro aos chamados rebeldes que se negavam a votar as reformas, faziam críticas pesadas à política econômica e reclamavam da interdição do debate interno.
Por receio de perder o controle do PT, o comando optou pela punição exemplar da expulsão. Acabou dando cartaz aos dissidentes e mostrando sua face autoritária.
Impressão reforçada tempos depois pela decisão de cassar o visto de permanência do correspondente do New York Times, por receio de que a reportagem de Larry Rother sobre o disse-me-disse a respeito dos exageros etílicos do presidente pudesse render danos à imagem de Lula.
De novo a emenda saiu bem pior que a encomenda na administração do escândalo Waldomiro Diniz quando, depois de abafada a CPI (que viria a ser instalada por determinação da Justiça já agora, em plena crise), o então ministro José Dirceu achou por bem dar demonstrações de vigor político abrindo guerra de extermínio com o PSDB.
Era o pretexto que os tucanos desde o início favoráveis ao exercício da oposição sem trégua precisavam para unir o partido em torno dessa tese e convencer os mais amenos, como o senador Tasso Jereissati. Aqui, de novo, por receio de perder força, o governo acabou aprofundando a perda, pois elevou o ânimo oposicionista no enfrentamento eleitoral de 2004.
No episódio da tentativa de João Paulo Cunha de conquistar direito a um novo mandato na presidência da Câmara, a repetição do equívoco. O governo teve medo de entrar na bola dividida da disputa paulista dentro do PT - questão subjacente àquele embate - e deixou o assunto em aberto durante todo o ano passado.
Resultado: não se organizou para a eleição do substituto de João Paulo, foi pego no contrapé pelos erros de estratégia com os aliados durante o pleito municipal e colheu sua maior, e até agora irrecuperável, derrota dentro do Parlamento.
Logo em seguida, uma tentativa malsucedida de fazer reforma ministerial outra vez levou o governo a cavar mais fundo para sair do buraco. A pretexto de não se pautar pelo noticiário nem ceder às pressões políticas, o presidente expôs ministros ao sol e ao sereno durante três meses para acabar forçado a suspender abruptamente as trocas no ministério por causa de uma cobrança impertinente de Severino Cavalcanti por cargos.
Isso para meses depois ceder às mesmas pressões, repetir a lógica do fisiologismo, aumentando a participação do PMDB sem obter novos apoios no partido, dar ao presidente da Câmara o esperado ministério (das Cidades) e agora oferecer a ele um muro de arrimo. Arriscam-se ambos a desabar encostados.
As ruas
A presença das vaias onde antes só havia aplausos do desfile de Sete de Setembro em Brasília, as manifestações de protesto em diversos Estados, não são determinantes para o desfecho, mas marcam o início de uma nova fase no desenrolar da crise.
Prazo
No oficial, o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral, tem dito que pretende encerrar mesmo os trabalhos em novembro.
No paralelo o senador pondera que "vai ser difícil" observar a data.
Entrevista:O Estado inteligente
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