Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, setembro 22, 2005

CLÓVIS ROSSI O mau cheiro

FOLHA DE S PAULO
 SÃO PAULO - Assim que os on-line anunciaram que Severino Cavalcanti havia sido eleito presidente da Câmara, bateu uma forte sensação de que algo estava errado, profundamente errado, na casa Brasil.
Sensação até difícil de explicar quando se sabe que muita coisa está errada e há muitíssimo tempo no pobre país tropical. Mas parecia que se havia chegado a um exagero de anomalia, como se o Deus que dizem ser brasileiro tivesse cansado de sê-lo e houvesse partido para a galhofa mais escrachada.
Não era ilegal nem ilegítima a eleição de Severino. Nem tenho qualquer preconceito contra nordestinos ou gente sem formação escolar. Tanto que cansei de dar a cara para bater para defender Lula e seu direito de ser presidente, mesmo com a formação incompleta, mesmo porque um monte de gente com formação completa fez consideráveis estragos no Brasil (e nas vizinhanças, é bom que se diga).
Nem me arrependo, aliás, de ter defendido o direito de Lula ser presidente. Seu problema não é a falta de diploma, mas a falta de competência para entender o país que governa, com ou sem diploma, o que só ficou evidente, ao menos para mim, depois da posse.
Já Severino tinha incompatibilidade nata com algo mais que não fosse o cargo extra-oficial de rei do baixo clero, com todas as lambanças associadas a essa turminha brava.
O triste, na hora em que sua renúncia preenche uma lacuna na Câmara, é que o quadro político desandou de tal forma que há incontáveis situações para as quais você olha e sente que há nelas uma anomalia, mesmo que não consiga dizer exatamente qual é ou que não haja o tal batom na cueca, uma prova contundente de uma irregularidade.
O mundo político parece o rio Tietê ou o Pinheiros. Exala mau cheiro. Mesmo que você não consiga ver o que causa o cheiro, sente-o, sabe que está lá, quase acha que pode tocá-lo. Pobre país.

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