Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, setembro 07, 2005

CLÓVIS ROSSI Entre Parreira e Weber

FOLHA DE S PAULO

  SÃO PAULO - Sem o querer, o técnico Carlos Alberto Parreira lançou uma frase que bem poderia ser o mote para o debate público brasileiro.
"Há limite para a ousadia", disse Parreira, ao recusar a idéia de usar cinco atacantes na seleção, de modo a aproveitar o quinteto mágico (não tão mágico assim, porque o quinto nome, Adriano, é muito eficiente, mas não é tão mágico como os outros quatro).
No futebol, Parreira pode até ter razão. O Brasil é, de longe, o melhor do mundo. Logo, a dosagem da ousadia é apenas questão de gosto.
Já na vida real, é o contrário. O país terá que decidir -e 2006 é mais uma boa oportunidade- se quer ousar ou continuar nesse chove-não-molha dos últimos muitos anos. Na vida real, estamos sempre entre os piores do mundo em itens essenciais, como desigualdade, qualidade da educação e dos serviços públicos em geral.
Cito apenas o caso da educação. Em artigo para a revista "Veja" há uns dois meses, o economista Cláudio de Moura Castro, especialista em educação, lembrava que, em 1642, Weimar (hoje integrada à Alemanha) já usava um turno de seis horas de aula para suas crianças.
O Brasil, 363 anos depois, ainda não conseguiu nem isso, para não falar de todo o resto.
Significa o seguinte: nesse capítulo, como em tantos outros, ou se faz uma revolução ou continuaremos a ser a mediocridade que somos. Sei que revolução virou palavra maldita, porque mais associada à esquerda e, por extensão, a seus fracassos.
Mas estou usando a palavra despida de ideologia, no sentido de dar saltos, queimar etapas. Ou, para citar Max Weber, o grande sociólogo alemão (1864-1920), só se consegue o possível se se tentar várias vezes o impossível (estou reproduzindo de memória, mas o espírito é esse).
Portanto, vamos combinar o seguinte: é Parreira na Copa, mas Weber nas urnas.

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