Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, setembro 09, 2005

BARBARA GANCIA Haverá mais de um "Maluf da esquerda"?

FOLHA DE S PAULO
Depois de ouvir as gravações dos telefonemas entre Paulo Maluf e seu filho Flávio, que mostram os dois falando em código ao estilo das conversas entre traficantes de morro que vira e mexe ouvimos nos noticiários, me pus a pensar nos parentes de Maluf que conheço da vida toda.
Por exemplo, no irmão Roberto Maluf, que era uma pessoa digna, séria e elegante. Ou na sobrinha Tetê Chamma, médica extremamente dedicada que comanda (ou comandava) a UTI do Hospital das Clínicas.
Como será que Roberto reagiria ao ouvir o irmão no "Jornal Nacional" falando de maneira cifrada com o filho? O que deve passar pela cabeça de Tetê, uma mulher sem qualquer afetação, quando ela vê o tio negando pela enésima vez o inegável e sorrindo forçado para as câmeras?
É triste ver um sujeito que tinha tudo para ser um bom administrador acabar como Maluf. Mas é mais penoso ainda constatar a completa falência moral da política tapuia. Veja se tem cabimento, caro leitor: para escapar da cláusula de barreira que aflige os partidos pequenos, o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) se dispôs a acolher Paulo Maluf em suas fileiras. Assim, o mesmo Maluf que pode ser detido a qualquer momento sairá como candidato a deputado federal pelo PTB! Não sobrou um respingo de vergonha a esses que pretendem nos governar.
 
Ao longo da semana, vi um monte de gente reclamar sobre os 300 deputados que votaram em Severino Cavalcanti para presidente da Câmara. Ora, será que os outros candidatos, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) e o dissidente do PT, Virgílio Guimarães, teriam sido escolhas melhores?
Greenhalgh não é aquele das indenizações milionárias aos supostos torturados pelo regime militar? Não é aquele que, a despeito das seis testemunhas mortas, continua a defender a tese de que a morte de Celso Daniel foi crime comum? Que tipo de providências o deputado teria tomado para investigar os crimes cometidos por delúbios e valérios? Algo me diz que ele seria bem mais criativo do que Severino ao defender penas brandas para seus colegas incriminados.
Ontem, em sua coluna, Clóvis Rossi cunhou uma frase genial. Disse que José Dirceu começa a parecer "o Paulo Maluf da esquerda". Muito boa. Mas será que, em seu discurso de 7 de Setembro, o presidente Lula também não deixou transparecer um quê de Maluf, que costuma discorrer sobre seus sucessos quando instado a responder sobre contas na Suíça?

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