Entrevista:O Estado inteligente

domingo, setembro 04, 2005

ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES A triste malha ferroviária brasileira

FOLHA DE S PAULO

A precariedade das malhas ferroviária e rodoviária tem sido apontada como um dos mais graves gargalos do crescimento do Brasil. O país tem investido muito pouco na área do transporte.
Para ter uma idéia, os Estados Unidos acabam de aprovar investimentos em transporte que chegarão a US$ 268 bilhões até 2009, contemplando, inclusive, o transporte ferroviário. Os Estados Unidos possuem mais de 200 mil quilômetros de ferrovias, e essa modalidade de transporte tem crescido na base de 3% ao ano; na movimentação de grãos, o crescimento chega a 10%.
Bem diferente é o caso do Brasil. Um trabalho recentemente publicado registra o triste quadro do Brasil. Em 1940, tínhamos mais de 34 mil quilômetros de estradas de ferro -o que já era pouco. Hoje, temos menos de 30 mil. Retrocedemos. Com essa malha, transportamos apenas 23% da carga do país, enquanto a média dos grandes países é de 40% -e a da Rússia é de mais de 80%. Há um enorme hiato entre as necessidades do Brasil e os recursos aprovados nos planos plurianuais do país ("Ferrovia: Um Projeto para o Brasil", Antônio de Pádua Gurgel e outros, 2005).
A luta em favor de mais e melhores ferrovias vem de longe. A grande visão do visconde de Mauá o fez bancar pessoalmente, em 1854, a construção da primeira ferrovia, de 18 quilômetros (Rio-Petrópolis). Em seguida, junto com os ingleses, construiu mais três projetos ousados: a ferrovia Recife-São Francisco, a Dom Pedro 2º (depois Central do Brasil) e a São Paulo Railway (rebatizada de Santos-Jundiaí).
Nos últimos 65 anos, praticamente estagnamos. Argumenta-se que o custo de construção de uma ferrovia é muito alto. Quem assim pensa desconsidera o custo total do transporte rodoviário. Os usuários das estradas de rodagem pagam apenas uma parte dos custos desse sistema de transporte. Vários deles ficam por conta da sociedade, como o policiamento, os serviços de emergência, a engenharia de tráfego, a recuperação dos feridos, o congestionamento e a poluição nas grandes cidades.
O Instituto de Engenharia estima que, só em São Paulo, se perca cerca de US$ 6 bilhões por ano na forma de combustível queimado inutilmente! Além disso, há o custo do tempo perdido, não só pelos caminhoneiros mas por toda a população que passa horas nos engarrafamentos diariamente. E, por fim, há o custo elevadíssimo das vidas perdidas e das pessoas feridas em acidentes de trânsito. Quando se leva em conta as "despesas invisíveis", vê-se que o baixo custo do transporte rodoviário é apenas aparente.
Com a pujança da nossa capacidade exportadora, o Brasil precisa investir nas ferrovias. A indústria do setor está preparada, embora grande parte dos vagões aqui produzidos estejam correndo nos trilhos do Gabão, da Guiné-Bissau e da Venezuela, países que, só em 2005, compraram 400 unidades do Brasil ("Fabricação de vagões é a maior da história", "O Estado de S. Paulo", 21/8/2005).
Está na hora de colocarmos as locomotivas e os vagões brasileiros para rodar nos trilhos do Brasil.

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