Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, agosto 23, 2005

LUÍS NASSIF O novo Consenso Global

FOLHA D E S PAULO

  Em palestra em São Paulo, ontem, o Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz esboçou o que poderiam ser princípios de um Novo Consenso Global.
O convite para ser moderador de sua apresentação me levou a um exercício de memória sobre as raízes do pensamento cabeça de planilha que emerge do Consenso de Washington. Nos anos 80, houve a rápida internacionalização e a expansão do livre fluxo de capitais. Capitais batedores passaram a freqüentar paragens desconhecidas -desde novos setores até países emergentes. Para guiá-los, havia a necessidade de análises certificadas. Dada a multiplicidade de situações, as agências de risco e os departamentos econômicos dos grandes bancos de investimento criaram cartilhas com clichês -aplicados indistintamente para todos os países e situações, levando aos conhecidos "efeitos manada". Qualquer país, se fizesse um ajuste fiscal, melhorava sua avaliação (mesmo que a economia estivesse exangue, como ocorreu com a agonia da Argentina).
Depois do fracasso, das crises sucessivas ou da estagnação das economias que adotaram o Consenso, caminha-se para um novo Consenso Global.
O primeiro ponto do novo Consenso, antecipa Stiglitz, é que cada uma das políticas defendidas pelo Consenso de Washington pode fazer sentido, desde que entendidas as especificidades de cada economia nacional.
O segundo é que qualquer Consenso futuro não pode ser fixado apenas por Washington. Um concerto de nações só se monta com a discussão ampla e efetiva de todas as partes.
O terceiro é que os princípios têm que se adaptar às circunstâncias dos países em desenvolvimento. Não existe tamanho único ou fórmula única.
Finalmente, há que avançar em cima de temas em que o Consenso de Washington jamais tocou. Ele focava basicamente o crescimento, na suposição de que a distribuição de renda e a inclusão social seriam mera decorrência. Não lograram o crescimento nem a inclusão social, inclusive nos Estados Unidos, onde houve o empobrecimento da classe média, em benefício das classes de mais alta renda.
Não houve uma compreensão adequada do papel do Estado, diz Stiglitz, especialmente na conciliação entre sucesso econômico e estrutura de equilíbrio social, promovendo educação, igualdade e rede de segurança social.
Não entendeu a importância da reforma agrária como fator de aumento de eficiência nem das políticas industriais. Não enfatizou a importância das políticas de crédito, achando que bastaria o livre fluxo de capitais para o crédito chegar a todos os pontos. Hoje, nos Estados Unidos, existem políticas específicas de crédito dirigidas a pequenas e médias empresas.
Tudo isso resultou de uma confusão freqüente entre fins e meios, diz ele. Por exemplo, em muitos países a privatização rápida foi adotada como um fim em si mesmo, não como um meio de tornar a economia mais eficiente. Na Rússia, foram desastrosas as conseqüências dessa privatização a toque de caixa. Resultou em queda do PIB (Produto Interno Bruto) da ordem de 50% e completa desarticulação da economia.

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