Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, agosto 23, 2005

Editorial de O Globo Pedagogia da crise

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Espera-se que tenha sido por influência da entrevista-resposta do ministro Antonio Palocci no domingo que Luiz Inácio Lula da Silva, no seu programa radiofônico "Café com o presidente" de ontem, moderou o tom ao tratar da economia.

Ao referir-se ao restabelecimento, pela Câmara dos Deputados, do salário-mínimo de R$ 300, revogando o ato irresponsável e demagógico do Senado de fixá-lo em R$ 384,29, Lula o justificou como uma questão de "responsabilidade". Reconheceu o presidente que a explosão definitiva da Previdência, causada por um reajuste do mínimo incompatível com o equilíbrio fiscal, levaria o país a uma crise séria. O mesmo tom Lula usou para abordar outra questão sensível, os juros: "(....) Não é tarefa do presidente baixar os juros, é tarefa do Banco Central."

Nem parecia o Lula de recente turnê populista por vilarejos no fundão do Brasil, em busca de apoio junto a claques de sindicalistas e sem-terra, quando chegou a prometer reduzir as taxas a canetadas. Tão irreal foi a promessa e tão óbvia era a intenção de obter aplausos fáceis, além da sua própria fragilidade política, que ninguém levou a sério a bravata no Brasil urbano, o que conta.

A defesa feita pelo presidente da responsabilidade na condução da economia precisa ter seqüência e ser reafirmada na prática com uma mudança de postura diante da crise. A repercussão positiva da decisão de Palocci de enfrentar com rapidez as denúncias, respondê-las de forma incisiva diante de câmeras e gravadores, foi uma lição ao governo e ao PT. Outra lição foi a eficiente análise feita pelo ministro da consolidação de princípios de política econômica seguidos pelo país desde o segundo mandato de FH, mas com bases lançadas ainda na gestão de José Sarney.

Os mercados reagiram positivamente por esse conjunto de fatores. Lula parece tê-los interpretado de forma correta, a julgar pelo "Café com o presidente". Subir em palanque para vociferar discursos demagógicos, imaginar que a crise política abre espaço para a desestabilização de uma política econômica cujos princípios são consensuais em todo o planeta é mais do que trabalhar para a desestabilização do governo. É agir contra o país.

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