Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, julho 18, 2005

IGOR GIELOW O alcance da "purificação"

folha de s paulo
BRASÍLIA - O cerco se fecha. Depois de uma semana quase inacreditável na coleção de fatos insólitos (começou com dólares na cueca, passou por reais em malas e batida em loja de madame para acabar num clone imperfeito da famigerada Operação Uruguai), podemos esperar por mais emoções a partir de hoje.
A fábula de meias-verdades contada por Delúbio Soares e Marcos Valério não funcionou para delimitar o escândalo a poucos personagens e a crimes superáveis -além de oferecer aos eventuais enrolados no campo adversário uma saída conjunta.
A trama que vai sendo desenrolada a partir da análise do papelório que está chegado aos técnicos da CPI dos Correios vai demonstrando ligações intrincadas de interesses privados e partidários com o cheiro de dinheiro público permeando o processo.
E não se fala aqui dos arroubos da ala irresponsável da CPI, que vem atuando com conivência e apoio de setores preguiçosos da imprensa, adeptos do caminho suave da reprodução denuncista sem checagem.
Há vários fios pedindo para serem puxados. O fato de uma das empresas ligadas a Valério ter usado um contrato com os Correios para garantir um empréstimo que foi parar na mão de Delúbio pode não provar nada em si, mas indica que não havia compartimentos estanques no mundo de relações sob investigação.
Várias perguntas têm de ser respondidas. Por exemplo: os bancos cobraram os empréstimos? Não é ilegítimo nem leviano perguntar se eles levaram alguma vantagem por dar dinheiro ao partido no poder, e as senhas "crédito consignado" e "CPI do Banestado" já estão na praça. Isso fora as centenas de milhões de reais que apareceram sem origem identificada nas contas ligadas a Valério. De onde vieram, para onde foram?
A gravidade do que virá à luz determinará a resposta da pergunta final: se o presidente Lula continuará como inocente útil para aliados e opositores, ou se entrará no dança do processo "purificador" previsto por Luiz Gushiken.

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