Entrevista:O Estado inteligente

domingo, julho 17, 2005

Como o Banco de Minas Gerais se deu bem


e após essa conversa com Zé Dirceu deve ter saido a ordem aos Fundos de aplicarem no banquinho...


De Ugo Braga e Vicente Nunes no Correio Braziliense, hoje:

 

"Em janeiro de 2003, um grupo de dirigentes do banco mineiro BMG foi levado à sala do 4º andar do Palácio do Planalto, onde despachava o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.

 

Os executivos eram ciceroneados pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza. E exigiram encontrar-se com Dirceu antes de concederem empréstimo de R$ 2,4 milhões ao PT.

Embora este encontro tenha se tornado público há mais de um mês, ainda não há detalhes do que foi tratado ali.

 

É possível concluir, entretanto, que começava uma parceria lucrativa para ambos os lados. Semanas depois, o BMG ganhou do governo o texto favorável de medida provisória que hoje lhe rende o privilégio de ser uma das instituições financeiras mais lucrativas do País.

 

A primeira versão da Medida Provisória 130, editada pelo governo em 17 de setembro de 2003, para autorizar os empréstimos bancários descontados diretamente do salário dos trabalhadores e dos aposentados foi feito sob encomenda do BMG.

 

O texto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelos ministros Antonio Palocci, da Fazenda, e Ricardo Berzoini, então na Previdência, atendia a um apelo do banco ao escancarar o filão do crédito consignado a instituições não-conveniadas com o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).

 

Na época, o caso foi tratado como uma briga do governo com o lobby do sistema financeiro, personificado na Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). A instituição insistia na tese de que, no caso dos aposentados e pensionistas, os empréstimos descontados em folha deveriam ser autorizados somente aos bancos que pagam benefícios previdenciários.

 

A Febraban argumentava que esses bancos fazem a intermediação entre o INSS e os aposentados mas nunca recebem pelo serviço. A dívida pendurada pela Previdência Social já estaria na casa de R$ 1 bilhão. Restringir o crédito consignado era, conforme a argumentação da Febraban, uma forma de compensar os bancos conveniados com o INSS pelo papagaio espetado pelo governo.

 

As negociações arrastaram-se por meses ao longo de 2003. Os grandes bancos sempre apontavam mais uma dificuldade para aderir ao projeto, que contava com o entusiasmo de duas centrais sindicais, a CUT e a CGT.

 

Até que, em julho de 2003, os técnicos da Previdência fecharam-se em copas e passaram a reunir-se sem a presença da Febraban. Houve 60 dias de "silêncio". Foi quando entrou em cena o lobby do BMG. Não há muitas informações sobre como ele chegou e se fez valer. Mas numa das reuniões em que o pessoal do ministério revisava o texto da MP 130, uma assessora do INSS pediu para sair da sala e, do lado de fora da reunião, desabafou: "Não trabalho mais para o governo, hoje trabalho para um banco".

 

A assessora é funcionária do Ministério da Previdência e ainda trabalha lá, embora tenha mudado de departamento. Ela explicou que se referia ao BMG quando fez o desabafo. Atendendo ao banco, o artigo 6º da MP foi redigido: "Os titulares de benefícios de aposentadoria e pensão do Regime Geral de Previdência Social poderão autorizar os descontos referidos no art. 1º nas condições estabelecidas em regulamento, observadas as normas editadas pelo Instituto Nacional do Seguro Social".

 

Desde então, o BMG tornou-se um fenômeno de lucratividade. A despeito de ser o 31º maior banco brasileiro, entre janeiro e março passados ele comemorou um lucro líquido de R$ 178 milhões, o sétimo maior resultado entre as instituições financeiras em atividade no País."


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