Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, julho 01, 2005

CLÓVIS ROSSI:O pântano e a pauta

folha de s paulo
 SÃO PAULO - Se alguém lhe dissesse, dois ou três meses atrás, que um certo Roberto Jefferson estaria pautando o Brasil, você, pessoa séria, daria um sorrisinho de deboche e diria: "Tá me gozando, companheiro?".
Ontem, no entanto, ao vivo e em cores, no plenário da CPMI dos Correios, um nobre representante do povo, Murilo Zauith (PFL-MS), não teve pejo de dizer essa frase diretamente a Roberto Jefferson, o que é profundamente ilustrativo do pântano que é o Brasil.
Não preciso repetir que Roberto Jefferson foi um dos líderes da tropa de choque de Fernando Collor de Mello, escorraçado do poder por falta de decoro. Quem assume gostosamente a defesa de um indecoroso boa gente dificilmente será. Mas não é só o passado que condena Jefferson.
No presente, ele assume coisas como ter recebido dinheiro não registrado de um partido aliado (no caso, o PT), ter tomado conhecimento da compra de deputados e se recusado a denunciá-la, o que também configura crime, ou, então, trata como coisinha menor uma propina de R$ 3 mil, como se corrupção fosse uma questão de montante, não de atitude.
Quando um cidadão com essa ficha pauta um país, você, que é uma pessoa séria, sentirá impulsos incontroláveis de fugir correndo para o mais longe possível.
Sim, porque, desgraçadamente, a frase dita pelo deputado pefelista e que soou como elogio é verdadeira. Jefferson grita "sai daí, Zé", e José Dirceu sai (da Casa Civil). Jefferson denuncia corrupção em Furnas, e diretores de Furnas são afastados poucas horas depois.
Como sou obrigado, por motivos técnicos, a escrever relativamente cedo, não sei se algum parlamentar terá desmentido Jefferson no ponto em que ele disse que são "todos iguais" (porque todas as campanhas teriam um caixa dois). Torço para que sim, mas temo que não.
Fujamos, porque quem pauta o Brasil é o pântano.

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