Viver o dia-a-dia do mercado financeiro, neste início de século, é uma experiência extraordinária. Não existe melhor ponto de observação para quem quer compreender o que se chama de economia global. Esse arranjo institucional, marca do mundo de hoje, maximiza o que o capitalismo ou, para usar uma expressão mais moderna, a economia de mercado tem de melhor e de pior.
Do lado positivo, a liberdade quase irrestrita para a tomada de decisões por parte dos atores econômicos, o que fortalece a racionalidade da economia. Do outro, a dimensão exagerada dos movimentos especulativos, o que amplifica o lado irracional do funcionamento dos mercados.
Tomemos os exemplos das Bolsas eletrônicas que operam 24 horas por dia e estão espalhadas pelos quatro cantos do mundo. Nelas, os agentes econômicos podem comprar e vender contratos que cobrem uma gama incrível de bens e ativos financeiros. Podem escolher, ainda, se suas transações representarão negócios com bens físicos ou ativos sintéticos, como são chamados os bens imaginários criados pelos mercados.
Vou citar alguns exemplos para trazer meus leitores do mundo dos mercados futuros para o dia-a-dia de suas vidas. Nesses pregões eletrônicos, é possível comprar produtos como soja, milho, cobre ou minério de ferro; também está disponível a todos a compra de bens financeiros, como moedas, títulos do governo japonês ou ações de empresas americanas. Podemos, também, adquirir bens imaginários, ou sintéticos, para ficar na linguagem do mundo financeiro, como índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, o índice Kospi, da Bolsa de Valores de Seul, e uma ação que não existe, como o contrato QQQ, da Nasdaq.
Essa parafernália de mercados e produtos, criada a partir da segunda metade dos anos 70 do século passado, ganhou superpoderes com o advento da internet. Os mercados atingiram, então, uma qualidade não-humana: a ubiqüidade. Não existem mais restrições físicas, e os operadores podem escolher o local mais favorável para se estabelecer. Por exemplo, um grande fazendeiro de soja de Mato Grosso pode operar no mercado de Chicago com a mesma facilidade que um produtor de Iowa. Eu mesmo, na Quest, em São Paulo, estou tão habilitado a comprar ou vender títulos da dívida brasileira e realizar uma operação de hedge com títulos do Tesouro americano quanto um profissional de Nova York.
Neste mundo em que os negócios virtuais ocorrem lado a lado com as transações físicas, a dinâmica do capitalismo mudou da água para o vinho. As expectativas dos agentes econômicos convivem ao mesmo tempo com o mundo real da economia e, em alguns momentos, determinam a formação dos preços dos ativos financeiros e bens. Um dos talentos mais demandados nos dia de hoje é o profissional com a capacidade de separar, em cada momento, a realidade da imaginação. No jargão dos mercados financeiros, olhar para os fundamentos e para a condição técnica.
Esse dilema, expectativas versus realidade, está mais uma vez presente na economia americana neste início de 2005. E, como os Estados Unidos são o grande motor do mundo -mesmo a China depende das exportações para a terra do Tio Sam para manter seu dinamismo-, todos os olhos estão voltados para o comportamento de sua economia. Do lado da realidade, temos um crescimento forte, baseado no comportamento ainda ativo do consumidor e no dinamismo do investimento privado. Depois de crescer mais de 4% no ano passado, espera-se uma pequena redução, para algo próximo a 3,5%, em 2005. Nesse cenário, o Federal Reserve começou a preocupar-se com a volta da inflação e vem aumentando seguidamente os juros primários.
Mas o imaginário do mercado está apontando para outra direção. Embora os juros de prazo mais curto estejam hoje bem acima dos níveis que prevaleciam quando o Fed iniciou o aperto monetário, os juros mais longos estão caindo. Esse comportamento sinaliza que a maioria dos agentes econômicos acredita que a economia está mais fraca do que entendem os companheiros de Greenspan e que juros mais altos vão levar a uma desaceleração importante nos próximos meses.
Se esse cenário estiver correto, na virada de 2005 e 2006 teremos uma economia mundial mais fraca e a volta da ameaça de deflação. Esse fantasma ronda hoje a cabeça de um grande número de analistas, em razão do desequilíbrio, que existe no mundo, entre poupança e consumo. Os próximos meses vão definir quem está com a razão.
Entrevista:O Estado inteligente
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