Quero agradecer ao professor Affonso Celso Pastore por sua entrevista recente ao jornal "Valor". Em nome do debate econômico inteligente neste país e no meu próprio. Somente uma pessoa como ele, um economista de corte ideológico conservador e respeitadíssimo no mercado financeiro, poderia vencer o obscurantismo que domina as discussões econômicas, de alguns anos para cá, no Brasil.
Pastore fez uma detalhada avaliação da economia brasileira, neste início de 2005, e apontou para os riscos que corremos se alguma coisa não for mudada na política econômica. Suas declarações merecem, na minha modesta opinião, uma reflexão mais profunda.
A primeira diz respeito ao modelo econométrico, que serve de orientação para o Banco Central na condução de sua política monetária. O leitor da Folha sabe que este colunista, já há muito tempo, vem alertando para a inconsistência e a ineficiência desse modelo. Mas era preciso que um membro do grupo conservador fizesse essa mesma leitura para que caísse a ficha da maioria de nossos economistas, principalmente dos que transitam no mercado financeiro. Afinal, eu sou um "desenvolvimentista sem credibilidade", como me disse um dia um economista sênior de um dos grandes bancos internacionais que operam no Brasil.
O professor Pastore alertou, com muito cuidado, para não ferir suscetibilidades, para o fato de que modelos econométricos podem, em momentos de ruptura com padrões passados, apontar caminhos errados. Como está claramente acontecendo agora.
Outra questão, tocada na entrevista, foi a da fadiga da taxa Selic como principal instrumento da ação do BC na tentativa de afetar a demanda agregada. Por quantas vezes eu fiz a mesma observação, talvez de forma menos cândida, neste meu espaço semanal? Pastore ressalta corretamente o "conundrum", para usar uma expressão recente do presidente do Fed, representado pela queda das taxas de juros mais longas em momento em que o BC aumenta sistematicamente a taxa de juros do "overnight".
Todos sabemos que são os juros de um ano que realmente afetam a demanda por crédito, pois são eles os balizadores dos empréstimos realizados pelos bancos. No sistema atual de ação de nossa autoridade monetária, a eficiência da política monetária é reduzida, porque os juros de 360 dias são quase dois pontos mais baixos do que a taxa Selic. Será necessária uma alteração nos procedimentos do governo, envolvendo também o Tesouro Nacional, que é hoje o responsável pela colocação de títulos públicos no mercado.
Também concordo com o entendimento do professor Pastore sobre as forças que estão agindo na formação da taxa de câmbio do real. Ele distingue as movimentações financeiras especulativas de curto prazo, que no caso de hoje estão associadas ao brutal diferencial entre nossa taxa de juros e a de outros países, das entradas de moeda forte associada à conta comercial e aos investimentos diretos. As primeiras podem criar artificialmente um superávit nas contas cambiais, mas geram, via valorização da taxa de câmbio, problemas futuros na conta corrente do país.
Outro ponto, tocado por Pastore e com o qual concordo totalmente, diz respeito ao aumento de reservas cambiais nesse contexto de juros internos extremamente elevados. Existe um terrível custo fiscal para o Tesouro, que, a partir de certo momento, supera largamente os eventuais benefícios no campo da solvência externa. Além disso, no momento em que os juros forem reduzidos, pode haver uma saída maciça desses recursos de curto prazo e uma elevação forte da taxa de câmbio. Isso já ocorreu no passado e obrigou o governo a manter juros elevados, mesmo em uma situação benigna da inflação.
Gostaria, finalmente, de chamar a atenção para outra questão levantada por Pastore. A política fiscal do governo Lula tem sido, apesar do elevado superávit fiscal antes do pagamento dos juros, extremamente expansionista. O aumento dos impostos, por conta da elevação da carga fiscal e do crescimento maior da economia, tem financiado um aumento expressivo dos gastos de consumo e transferências do governo federal. Neste momento em que o superávit comercial e o aumento do crédito ao consumo representam forte estímulo à atividade econômica, uma política fiscal expansionista pode criar graves problemas para o futuro. Principalmente em um país no qual os gastos do governo são inflexíveis para baixo.
Entrevista:O Estado inteligente
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