Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, fevereiro 22, 2005
O GLOBO Miriam Leitão Altas reservas
O Brasil já superou, em fevereiro, um volume de reservas líquidas que o mercado financeiro e ele mesmo, Banco Central, haviam previsto para o fim de 2005. O BC tinha a previsão de US$ 25,3 bilhões para o fim do ano e, ao terminar janeiro, o volume de reservas — sem contar os empréstimos do FMI — já estava em US$ 27 bilhões. Como não foi incluída aí a captação externa, há uma chance de que o país termine fevereiro com US$ 31 bilhões. Outro dado que impressionou foi a balança comercial da terceira semana de fevereiro, indicando um saldo de quase US$ 1 bilhão e a continuação do crescimento da exportação, apesar da queda forte do dólar todos esses meses e que foi acentuada nas últimas semanas. — Os dados mostram que as exportações continuam muito fortes, apesar da chiadeira geral sobre câmbio. O que provavelmente está ficando claro é que alguns setores no Brasil tiveram um aumento tão forte de produtividade, como aço e soja, que, mesmo num câmbio aparentemente desfavorável, permanecem competitivos — diz o economista Roberto Padovani, da Tendências. A soja passará por um grande teste este ano porque enfrentará câmbio baixo e preços baixos. O aço está compensando o câmbio com os preços altos do mercado externo. — Mas o interessante é o fato de que o mercado está revendo para cima a balança comercial apesar da situação cambial. Há instituições elevando para US$ 26 bilhões ou até mais e isso no segundo mês do ano — comenta Padovani. O economista-chefe do Credit Suisse First Boston, Nilson Teixeira, ressalta o mesmo fato: — Por incrível que pareça, o dólar está caindo e nós, do mercado, estamos revendo para cima as previsões da balança comercial. Ainda não fizemos a revisão, mas há instituições apostando até em US$ 27 bilhões. O fato é que ninguém esperava que o comércio internacional continuasse forte este ano, e a semana passada, particularmente, surpreendeu. — Num único dia, sexta-feira, o Brasil exportou US$ 700 bilhões, com US$ 400 milhões de saldo. Acho que o mercado vai continuar tendo surpresas, pois ninguém imaginava um começo de ano tão forte assim. O saldo deve começar a cair a partir de maio, mas nós estamos com uma projeção de saldo comercial acima da do mercado. Achamos que pode chegar a US$ 30 bilhões — diz Eduardo Faria, do Banco Safra. O economista Luis Otávio Leal, da ASM Asset, lembra que alguns produtos agrícolas terão um resultado em valor menor por causa dos preços. É o caso da soja. Mas outros produtos agrícolas estão com preços altos. O café, por exemplo, pode ter US$ 1 bilhão a mais este ano com exportação. Seja como for, os dados externos do Brasil impressionam até economistas que acompanham o dia-a-dia desses indicadores. — As transações correntes vieram maiores do que esperávamos. Nossa expectativa era de US$ 600 milhões a US$ 650 milhões (o resultado foi US$ 818 milhões). O fato de as reservas líquidas estarem crescendo muito mostra que o balanço de pagamentos está hoje mais sólido. As pessoas lá fora estão muito bem impressionadas com o ajuste estrutural do balanço de pagamentos que o Brasil vem fazendo — afirma Victória Werneck, do UBS. O resultado de Investimento Direto Estrangeiro também foi maior do que o mercado projetava. Esperava-se US$ 800 milhões e o número divulgado ontem foi de US$ 1,2 bilhão em janeiro. Na tentativa de evitar a queda do dólar, o Banco Central tem comprado dólar no mercado. De dezembro a janeiro, já comprou US$ 5,3 bilhões e, este mês, já deve ter comprado US$ 1 bilhão, no cálculo da Tendências. Isso sem falar nas captações diretas do Tesouro, como houve recentemente. O lado complicado disso é que compra de dólares significa aumento do volume de reais na economia, que o Banco Central e o Tesouro enxugam emitindo títulos da dívida. — A compra de reservas, em si, pode ser expansionista e a venda de títulos é para enxugar essa liquidez. Pelos dados, o BC não tem conseguido esterilizar toda a liquidez pela compra de reservas — avalia Padovani. Neste caso, é mais um ponto de contradição da política econômica, além das várias outras contradições como as das políticas fiscal e de crédito. Esta semana, será divulgado o superávit primário de janeiro e a expectativa é de que o número será alto, mas muita gente está dizendo que as despesas do governo estão aumentando a demanda, quando o BC eleva os juros para conter a demanda. — A política fiscal tem sido expansionista, apesar do elevado superávit primário. Isso é outra contradição: um grande superávit primário não necessariamente contracionista — diz Padovani. No caso, o que ele e vários outros economistas têm dito é que as despesas correntes estão aumentando, financiadas por um aumento da arrecadação, que produz um superávit primário alto. Isso dá a impressão de que está tudo bem com a política fiscal, mas o que os economistas que acompanham o dia-a-dia dessas contas estão dizendo é que o governo está expandindo os gastos. A boa notícia de ontem é que o boletim Focus do Banco Central mostrou que a expectativa do mercado para a inflação caiu, depois de algumas semanas de alta. Muita gente achava que não haveria alteração dessa previsão até a divulgação da ata do Copom, na quinta-feira, mas os bancos e consultorias ouvidos na pesquisa do BC já mostraram a redução da expectativa de inflação este ano de 7,4% para 7%. Outro dado que sairá esta semana, na sexta-feira, é a taxa de desemprego de janeiro. Deve ter subido e há quem acredite que possa subir um ponto percentual em relação a dezembro. É sazonal, mas ajudará a alimentar a crítica contra o Banco Central.
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