Entrevista:O Estado inteligente

sábado, fevereiro 26, 2005

VEJA on-line Tales Alvarenga Severino não é Geni


"Tentar transformar Severino na Geni do
Congresso é uma tolice. Sacrifica-se o bode
preto do agreste pernambucano
no altar da
incorreção política, permitindo-se que todos
os outros pareçam moralmente impecáveis"

O novo presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, não é a Geni do Parlamento. Isso é o que estão tentando fazer dele. Severino é um político fisiológico. É também um defensor de posturas religiosas retrógradas. É inculto. Tudo isso é Severino. A eleição desse homem, no entanto, está sendo apresentada como um dos momentos mais rasteiros do Parlamento brasileiro, como um chocante espetáculo de degeneração política e moral.

Aí, convenhamos, chegou-se ao terreno da mais galopante hipocrisia. Sacrifica-se o bode preto do agreste pernambucano no altar da incorreção política, permitindo-se, com seu apedrejamento, que todos os outros (políticos ou não) pareçam moralmente impecáveis. É como diz a música de Chico Buarque: "Joga pedra na Geni / Ela é feita pra apanhar / Ela é boa de cuspir / Ela dá pra qualquer um / Maldita Geni".

Jader Barbalho já foi presidente do Senado e hoje é deputado. Paulo Maluf, Orestes Quércia e Newton Cardoso também foram ilustres figuras no Congresso, além de terem governado seus estados. Fernando Collor de Mello foi deputado, governador e presidente. Essa escalação aconselha um pouco mais de humildade aos que apedrejam Severino porque ele é chucro.

Severino é apenas a parte do Congresso que nunca aparece na foto. Na Câmara, fez promessas fisiológicas aos que acabariam por elegê-lo à presidência. Prometeu-lhes um aumento de salário, de 12.850 para 21.500. O aumento não é bom para as contas nacionais. Severino está sendo oportunista. Mas os seus colegas, pode-se ter certeza, estão intimamente felizes com o aumento que condenam da boca para fora. A Câmara está cheia de Severinos. O Brasil está cheio de Severinos. Apontar apenas uma Geni na multidão só contribui para satanizar aquela pessoa, deixando de lado o sistema de idéias e costumes retrógrados que os sustentam.

Eleito, Severino não fez declarações sobre rumos do Brasil, reforma de instituições ou qualquer coisa que se espera de um político sério. Mandou recados, sempre na mesma e milimétrica direção. Sugeriu acabar com a reeleição para a Presidência da República. Nunca um aliado do PT, como ele é, teve a audácia de sugerir que Lula não dispute mais quatro anos de governo. Afirmou também que Fernando Henrique Cardoso seria um bom nome para 2006.

Ao presidente do PT, deputado José Genoino, fez saber pelos jornais que o considera um trapalhão. Ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, avisou que o BC precisa de "um cabresto". Disse que vai convocar Palocci e Meirelles para explicar a política econômica que aplicam no país. Quer pedir a Lula a demissão dos ministros que desdenham parlamentares desconhecidos. Tais idéias, postas em prática, darão dor de cabeça ao governo por meses seguidos. Largadas no ar apenas como ameaças, são moedas de troca. Nada que não se tenha presenciado antes em Brasília. E não foi Severino que inventou essas coisas.

Nenhum comentário:

Arquivo do blog