OBSTÁCULOS E RISCOS
Levantamento realizado pela Câmara de Comércio dos EUA, cujos resultados esta Folha publicou no domingo, revela que as maiores multinacionais norte-americanas com investimentos no Brasil mantêm boas expectativas quanto ao desempenho da economia do país, mas apontam uma série de problemas que precisam ser enfrentados.
Entre os obstáculos, destacam-se a burocracia, a alta carga tributária, as deficiências regulatórias, os custos trabalhistas e os juros elevados. Na visão dessas corporações, a principal prioridade do governo neste ano deveria ser a reforma tributária.
O resultado está longe de ser surpreendente. De uma maneira geral, o próprio empresariado brasileiro tem apontado os mesmos fatores como empecilhos à expansão de seus negócios no país.
Outro aspecto preocupante, mencionado por algumas empresas, diz respeito à excessiva volatilidade do câmbio e à acentuada valorização do real, associada às elevadas taxas de juros, que atraem capitais especulativos de curto prazo para o país.
Nesse sentido, as declarações do diretor industrial da Black & Decker do Brasil, Domingos Dragone, merecem atenção. Ele toca num tema já analisado neste espaço: a intensa queda da cotação do dólar poderá comprometer os planos de investimento de diversas companhias estrangeiras que optaram por transformar suas unidades brasileiras em centros de produção de bens voltados para o mercado internacional.
Em grande medida, essa decisão foi estimulada pelas desvalorizações do real, que criaram condições mais favoráveis à expansão das exportações -como têm demonstrado os expressivos resultados obtidos nos dois últimos anos. Obter elevados saldos comerciais não é para o Brasil apenas uma opção entre outras -trata-se de uma necessidade fundamental, em se tratando de um país altamente endividado, que precisa fechar suas contas externas e reduzir suas vulnerabilidades.
Nesse sentido, a volatilidade cambial é um fator de insegurança para as empresas voltadas para a exportação e um risco para o já precário equilíbrio da economia brasileira.
ESTRABISMO DIPLOMÁTICO
O chanceler Celso Amorim estará até o dia 26 no Oriente Médio e na África do Norte. Visitará ao todo nove países árabes. O interesse prioritário do Itamaraty, no momento, é o sucesso do encontro programado para o início de maio, em Brasília, entre governantes árabes e sul-americanos. É compreensível que, diante de tal agenda, as ações se concentrem nesses interlocutores.
No final de 2003, contudo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também esteve no Oriente Médio. Fez cinco escalas, todas em capitais árabes. Não há nada de errado no fato de o Brasil procurar ampliar seus intercâmbios comerciais com essa comunidade de países. Todavia, o país revela um certo estrabismo ao não tratar com a a mesma ênfase diplomática o Estado de Israel.
O fato de Israel não constar da agenda recente de viagens do primeiro escalão brasileiro foi objeto de observação pontiaguda, na semana passada, de um alto funcionário israelense, Ilan Sztulmann, do Ministério das Relações Exteriores local.
"Estamos surpresos porque o governo brasileiro, com boa vontade, quer tomar parte no processo de paz que já estamos travando hoje com os palestinos. Mas eles [do Brasil] falam só com um lado", disse o diplomata à BBC-Brasil.
Ao mesmo tempo, Celso Amorim mais uma vez visita a Síria, país suspeito de estar por detrás do atentado que matou há dias Rafik Hariri, ex-primeiro-ministro libanês. Em outubro do ano passado o Brasil se absteve em votação do Conselho de Segurança da ONU que exigia que a Síria se retirasse do Líbano.
Há falta de simetria no comportamento externo brasileiro. Mesmo que as relações com Israel sejam hoje amistosas, há fantasmas desonrosos nos armários do Itamaraty, como aquele que, nos anos 70, aceitou a pressão do baixo clero da Assembléia Geral da ONU e associou o sionismo a uma forma de racismo.
Entrevista:O Estado inteligente
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