Entrevista:O Estado inteligente
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domingo, fevereiro 27, 2005
O Globo Elio Gaspari Nuvem
Um dos muitos formatos da nuvem do Ministério da Saúde sugere que ele possa vir a ser ocupado por Ciro Gomes.
Por mais fácil que pareça, a demissão de Humberto Costa complica-se toda vez que a turma da bandalha resolve criar crises para enfraquecê-lo.
Recordar é viver
O Departamento de Estado talvez não lembre, mas o consulado do Brasil em Atlanta foi criado em 1976, a pedido do então governador da Geórgia, Jimmy Carter.
Ele visitou o Brasil em 1972, antes de ser eleito presidente, batalhando pela medida. Àquela época ninguém poderia imaginar que 30 anos depois haveria cerca de 30 mil trabalhadores brasileiros na região de Atlanta.
Não fica bem para um serviço diplomático profissional encrencar com uma repartição que foi criada para atender a um pedido do cidadão que se tornou presidente dos Estados Unidos.
Palpites
Um curioso das sucessões no Vaticano acredita que se o sucessor de Karol Wojtyla não for um cardeal italiano, a tradição estará de tal forma quebrada que não será restabelecida tão cedo.
Se o sucessor de João Paulo II for um italiano, é provável que se chame Dionigio Tettamanzi. Tem 70 anos e é o arcebispo de Milão.
Nos últimos cem anos, todas as vezes em que o arcebispo de Milão esteve entre os papabili, saiu Papa do conclave. (Pio XI e Paulo VI)
Como não há conclave sem que o secretário de Estado esteja entre os favoritos, a continuidade do pontificado de João Paulo II seria defendida pelo cardeal Angelo Sodano. O último secretário de Estado a chegar ao papado foi Pio XII, em 1939.
Desperdício
O comissário José Genoino teve duas reuniões com políticos oposicionistas nos últimos dias do recesso. Uma, com o tucano Geraldo Alckmin, aconteceu no Palácio Bandeirantes. A outra, com o senador Jorge Bornhausen, foi na sede do PFL. O presidente do PT propôs-se a discutir a pauta política e foi aos dois encontros levando um companheiro.
Durante a conversa com Bornhausen, a certa altura o comissário voltou-se para o acompanhante e perguntou: “Não é, Delúbio?”
O presidente do PFL não conhecia pessoalmente o tesoureiro do PT. Homem educado, conduziu a conversa por mais uns dez minutos.
Pena. Tem tanta gente querendo reunir-se com o companheiro Delúbio e Bornhausen desperdiça um encontro desses.
Mesa farta
O IBGE informa que, em 1996, quando começou a medir a renda da população ocupada, ela caiu de R$ 508 para R$ 409.
Nesse mesmo período, a renda de FFHH, de Lula e do pedaço da ekipekonômica que passeou pela porta giratória que liga Brasília à Avenida Paulista aumentou de forma significativa.
Um dia o Banco Central fará uma pesquisa revelando quanto a banca paga aos seus ex-diretores que trocaram a mesa do Copom pela do restaurante La Coupole, em Paris.
De novo
Ressurgiu o nome de Vladimir Palmeira nas articulações do petismo carioca. Ele pode ser candidato a governador.
O grande agitador das manifestações de 1968 é hoje um petista que não brigou com sua própria biografia. Une a esquerda carioca e dedetiza a banda podre do PT fluminense.
Seu problema pode vir a ser esse: une demais, dedetiza demais.
Um holofote para a privataria
Não se preserva auto-estima encobrindo malfeitorias. A privataria do tucanato e os financiamentos ruinosos concedidos pelo BNDES precisam de mais holofotes e menos folclore. O “alto companheiro” citado por Lula em sua maledicência nunca esteve no anonimato. O professor Carlos Lessa jamais escondeu a situação em que encontrou o banco, em janeiro de 2003. Ele tem conhecimento e capacidade para recontar o que viu.
A privatização das empresas de energia elétrica produziu um socorro genérico, um calote específico (Eletropaulo) e uma hospitalização (Light). Em todos os casos, a conta foi para a choldra. A liquidação das ferrovias beneficiou pelo menos um raposão internacional e acabou numa injeção estatizante que poderá chegar a R$ 1 bilhão. Tudo isso com um encolhimento de quatro mil quilômetros da malha. As maracutaias da privataria das comunicações só não acabaram em CPI porque no início de 2003 o PT negociou um telesilêncio com o PSDB.
Não é necessário criar um clima de caça aos tucanos. Trata-se apenas de abrir o debate e as contas do BNDES. Faz tempo que pesquisadores nacionais e estrangeiros estudam as privatizações do mandarinato de FFHH. Em alguns casos as conclusões são muito mais tristes que as de Lula.
Talvez se possa usar a autópsia da privataria para melhorar a qualidade do debate das políticas públicas nacionais.
Ao contrário do que dá a entender o companheiro, a corrupção não é a causa determinante do malogro de muitas privatizações nem da tunga imposta ao BNDES. O mais grave é a política ruinosa. Mesmo que a privatização do setor elétrico (ou ferroviário) tivesse sido feita por São Francisco de Assis, a beatitude do vendedor não eliminaria o fato de que o processo era inepto e lesivo aos interesses da sociedade brasileira.
Por mais que se tenha roubado em Pindorama, debaixo deste céu de anil há mais coisas dando errado porque estão irremediavelmente tortas do que por roubalheiras. Ninguém roubou um ceitil do programa Primeiro Emprego e ele foi a pique. O Fome Zero acabou em piada sem que se tenha transformado em fonte de corrupção.
Se os companheiros estiverem mais interessados em fazer as coisas funcionarem do que em apenas denunciar os outros, o debate da privataria melhorará a auto-estima nacional. Não é preciso sair por aí pensando só em apontar culpados, até porque, como ensinou o cantor Paul Robeson, toda vez que você aponta um dedo na direção de alguém, outros três estarão apontando para você.
Remédio caro para cobaia barata
Deu no “The New York Times”: Louise Dunn, porta-voz do laboratório inglês Glaxo, informa que a empresa testa seus remédios em cobaias na Índia, China, México e Brasil.
Lá se foram os tempos em que D. Pedro II negou a Louis Pasteur um lote de presidiários para que ele testasse sua vacina contra a raiva.
Os testes de remédios na patuléia do Terceiro Mundo barateiam as pesquisas dos laboratórios. Esse tipo de trabalho consome dois terços do custo de um novo medicamento e quando ele é feito por cá, sai pela metade do preço. As empresas asseguram que praticam no andar de baixo os mesmos padrões de qualidade exigidos nos países do andar de cima.
Na hora de usar cobaias de baixo custo, os laboratórios entendem as virtudes do Terceiro Mundo.
Na hora de vender seus remédios para as famílias dessas mesmas cobaias, recusam-se a baixar os preços.
Alem do Glaxo, os laboratórios Roche, Aventis, Pfizer e Eli Lilly mantêm programas de testes na Índia.
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