Entrevista:O Estado inteligente

sábado, fevereiro 19, 2005

VEJA on-line Tales Alvarenga

Tales Alvarenga
O Lulômetro

"No caso da freira assassinada, o governo
agiu de forma exemplar. No caso Waldomiro,
o processo não sai do lugar. No caso Celso
Daniel, o ponteiro do Lulômetro não se mexe"


O governo Lula criou nesta semana uma medida de comparação para avaliar seu interesse pelos crimes cometidos no país. Vamos chamar esse instrumento de "Lulômetro", em homenagem ao presidente. A base de comparação estabelecida para o Lulômetro é o assassinato na região de Anapu, no Pará, da missionária Dorothy Stang, freira americana naturalizada brasileira. Nesse caso, o Lulômetro vibrou em sua potência máxima. A freira lutava em favor de assentados pela reforma agrária. Brasília tomou, imediatamente, todas as providências necessárias. O crime deverá estar solucionado em poucos dias.

Agora que o Lulômetro está disponível, vamos usá-lo para medir a reação do governo no caso de corrupção que tem como figura central Waldomiro Diniz, homem ligado ao PT. Waldomiro foi braço-direito do chefe da Casa Civil, José Dirceu. Ocupou o cargo de assessor parlamentar do ministro. Waldomiro é acusado de ter usado o poder de seu cargo para produzir a renovação de um contrato milionário entre a Caixa Econômica Federal e uma empresa privada. Mas ficou mais conhecido por outro fato. É o homem que aparece numa fita de vídeo de 2002 pedindo propina e contribuições de campanha a um integrante da máfia do jogo, Carlinhos Cachoeira. No caso Waldomiro, o ponteiro do Lulômetro ficou parado no zero. O processo não sai do lugar há um ano.

Ligue-se o Lulômetro em outro caso, o do prefeito petista de Santo André, Celso Daniel. Ele estava escalado para chefiar a campanha de Lula para presidente no momento em que foi seqüestrado e assassinado. Houve denúncias a respeito de extorsão de propinas de empresários de Santo André, promovida por gente ligada à prefeitura do PT. O irmão de Celso Daniel, o médico João Francisco Daniel, afirmou ao Ministério Público que o prefeito foi morto ao tentar impedir a ação da quadrilha. Teria descoberto que os achacadores ficavam com parte do dinheiro que deveria ser remetido aos cofres do PT. Segundo o depoimento de João Francisco, Gilberto Carvalho, atual secretário de Lula, teria lhe dito que levou pessoalmente dinheiro de Santo André para José Dirceu, na época comandante do PT. Nesse caso, o ponteiro do Lulômetro também não se mexeu.

Já no episódio da freira Dorothy Stang, horas depois do crime já estavam identificados como suspeitos o mandante, o intermediário e dois pistoleiros. Três dias depois do assassinato, houve uma reunião de oito ministros para estudar a grilagem de terras no Pará e a violência que provoca. Para lá foi imediatamente enviada uma força-tarefa composta de militares do Exército, agentes da Polícia Federal, fiscais do Incra e do Ibama.

"Quero que o governo reaja rapidamente e com força", ordenou Lula. Brasília resolveu pedir a "federalização" das investigações, diante da evidência de que a polícia do Pará estava fazendo corpo mole na hora de apurar a violência em Anapu. O Lulômetro teve comportamento diferente nos casos da freira Stang, de Waldomiro Diniz e de Celso Daniel. Mas ainda há tempo de corrigir a falta de sensibilidade onde ela fraquejou.

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